Do Livro
HISTÓRIA DE SANTA CATARINA Almir Martins IMBITUBA – SC - Fone Fax 2551324
História – Cultura e Folclore
Clique
nas fotos para ampliar.
1) Histórico
A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO EM IMBITUBA
A Festa em honra ao Divino Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, celebrada desde o início pela Paz Familiar, acontece em Imbituba no Sul do Estado , ( em Vila Nova (a mais antiga), em Sambaqui e no Mirim).
Vila Nova de Imbituba, ao lado de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, é a mais antiga comunidade de Fé do Sul do
Estado. É uma das cinco mais antigas de Santa Catarina, junto com São Francisco do Sul ( a mais antiga), Desterro, São José, e
Santo Antônio dos Anjos.
Consta da Carta de Luiz Ramirez, pertencente a documentário geral relativo a Sebastião Caboto, texto que se guarda na Biblioteca do Escorial, proximidades de Madrid na Espanha, documento publicado em 1852, e no Brasil pela primeira vez em revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que Vila Nova ( toda a região dos Campos de Sant´Ana), teria sido descoberta , reconhecida por dois missionários catequistas de nomes Pe. João Lobato e Pe. Jerônimo Rodrigues ( este cronista), e recebido as primeiras catequeses sobre o Divino Espírito Santo em 11 de agosto de 1.605, quando aqui encostaram suas embarcações
no “ Porto Dom Rodrigo” ( Porto de Imbituba). Foram estes dois padres que, trazendo nas bagagens objetos sacramentais como
crucifixo, imagem, e “ com mais dezessete pessoas com seus pelegos e suas tipóias” e com escravos e Carijós, formaram “ Missão” e prestaram culto ao Divino Espírito Santo [1].
Informe de 1765, refere-se que já em 1752, teria sido “ ereta uma igreja na Freguesia da Costa de Baixo à de Santa Ana distante 18 léguas da Capital e colocada uma imagem de Santa Ana em um pequeno altar e formado um grupo de irmãos , “ Irmandade para culto ao Espírito Santo” : “ Foi esta vigaria ereta no ano de 1752. Tem 320 fogos com 1336 almas de Sacramentos. Tem irmandade das almas ereta, e confirmada por autoridade Régia, a Irmandade do Santíssimo Sacramento, Santa Ana e Irmandade do Espírito Santo, anexas, tem recorrido à Autoridade, Régia” .Sobre o Vigário :”O da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário da
Enseada de Brito, ignoro quem seja. Porém , o da Freguesia de Santa Ana conheço-o bem: É o Padre Francisco José de Araújo Bernardes, perfeitíssimo clérigo, exemplar e excelente pároco”
.
Assim , das notícias dos visitadores e dos “ Livros de Visitas” dos Bispos Visitantes de 1815, que registra: “ Freguesia de Santa Ana de Vila Nova. João Francisco Viana – 1.602 almas” , já constava a Festa da Irmandade do Divino Espírito Santo “ que acontecia nos “ janeiros” , com celebrações e “ Terços cantados ao Divino Espírito Santo” .
No final do Século XVIII , já aconteciam as Festas do Divino Espírito Santo e Santa Ana de Vila Nova, bem mais antigas que as de Freguesia de Santa Ana de Mirim que só alcançou notícia, conhecimento e fama neste século XIX que passou. Bem sabemos que Vila Nova foi colonizada por açorianos já à partir de 1756, mas a Freguesia de Mirim somente após 100 anos , cerca de 1850 foi colonizada à partir dos açorianos de Vila Nova. Também sua Igreja foi construída posteriormente, quando foi roubada a imagem de Santa Ana de Vila Nova e levada para Mirim. Daí a rivalidade existente, ainda hoje , entre os habitantes de Vila Nova e Mirim que se estende até no campo político e até nas disputas de futebol.
Voltando à Festa do Divino Espírito Santo de Vila Nova, conformedocumentos fotográficos e escritos do nosso arquivo, podemos afirmar que foi à partir de 1804 que os festejos alcançaram a dimensão e a riqueza de detalhes que têm hoje, tanto Vila Nova quanto Mirim, posteriormente, com destaque para a primeira comunidade que é mais antiga.
2. A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE VILA NOVA IMBITUBA –SC
A FESTA DO DIVINO HOJE
Sendo Vila Nova a mais antiga comunidade de fé do Sul do Estado, constante do livro da Irmandade do Santíssimo Sacramento em Vila Nova, fundada por Alvará de Dom João, Príncipe Regente em 1.804 ( cópia do Museu de Laguna em nosso poder),que autorizava
a vinda para o Sul de Santa Catarina ( precisamente para Vila Nova em Imbituba) do “ Santíssimo Sacramento do Altar ”. Nessa época Vila Nova foi o principal centro religioso do Sul de Santa Catarina.
Assim, a Freguesia de Santa Ana de Vila Nova tratou logo de, também, organizar aIrmandade do Divino Espírito Santo e, com ela, a Festa do Divino.
A Festa do Divino Espírito Santo de Vila Nova, como vem já acontecendo há muitos anos, é marcada pelos seguintes acontecimentos em honra ao Divino:
3. ROTEIRO DA FESTA DO DIVINO
Os festejos em honra ao Divino Espírito Santo de Vila Nova vão de abril ( com as cantorias da Bandeira do Divino) até o final de julho, culminando com a Festa em Honra à Santa Ana no dia 26 de julho.
A) A BANDEIRA PETITÓRIA DO DIVINO
A Bandeira do Divino Espírito Santo, também conhecida em Imbituba e região como a Bandeira Petitória do Divino, tem a tripla finalidade de propagar a fé no Divino Espírito Santo de Deus, anunciar a Festa do Divino em Julho em Vila Nova, e arrecadar donativos em dinheiro para a Festa através das coletas na salva ( sacolinha vermelha com a Pomba do Divino) e ainda receber o pagamento de promessas.
As Cantorias da Bandeira acontecem há dois séculos. Praticamente compõem-se do seguinte: Três cantores principais, que são um “ tirador de versos” com motivos repentistas , isto é, versos da ocasião; um “ fineiro” que canta de fino no final dos versos e o cantor solo que faz segunda voz com o “ tripla”. Não deve faltar, e não falta, nas cantorias da Bandeira de Vila Nova os seguintes instrumentos: “O tambor de respostas”, especial para a cantoria da Bandeira; uma rabeca ou rebeca ( popular de violino); e uma viola de afinação baixa.
Foram cantadores de Bandeira do Divino nos últimos 100 anos na Bandeira da Vila: À partir de 1900 , o cantador e “chefe da Bandeira” – João Martins ( Seu Joca) ; “ Seu Américo” ; “ Seu Lídio ”; “ Seu Manoel ( Dedé ) da Praia Vermelha” e nos últimos 40 anos seu Francisco Martins ( Chico Martins) e família.
Os últimos grupos do Divino de Vila Nova foram o Grupo Folclórico Estrela Guia da Família Martins, e na última Festa de julho de 2.003, apresentou-se com cantorias do Divino, o “Grupo Folclórico Cultura Açoriana” liderados pelo “ Romanceiro Açoriano “ de Imbituba – o poeta e repentista Almir Martins juntamente com os irmãos da Família Mello e Souza, Antonio, Evaldo e Otacílio.
A Bandeira do Divino de Vila Nova, percorre “ de casa em casa” levando a cantoria do Divino, percorrendo as 15 comunidades da Paróquia de Imbituba, desde o Sul ( Itapirubá ) até o Norte ( Ibiraquera).
As fitas que são colocadas na caminhada é o pagamento de promessas.
Uma das cantorias apresentadas pelo Grupo Cultura Açoriana é a seguinte:
b) Cantoria do Divino:
( Letras em anexo)
04. TERÇOS CANTADOS NAS CASAS
A Bandeira do Divino que percorre as casas durante o dia, à noite pede pousada em uma delas, que muitas vezes, pagando “promessa”, dão pouso à Bandeira. Pela Noite .....
Pela noite acontecem os “ terços cantados” com a Ladainha do Espírito Santo”, orações , e terminam o encontro com a Cantoria da Bandeira. Após a cantoria da Bandeira, acontecem as “ arrematações” de massas, bolos e prendas doados como promessas ao Divino. O arrematador ( fazendo o leilão) vai gritando o valor da última oferta e dizendo “ vale muito mais, e muito mais vale)... até dar uma, duas, e três e entregar a prenda ao ganhador da “ arrematação”.
A Ladainha cantada em Latím “ assassinado”, com palavras de fé é tradição entre os preceiros e rezadores dos “Terços Cantados ” das novenas do Divino.
05. AS NOVENAS DA FESTA DE SANTA ANA E DO DIVINO
Acontecem nos nove dias antes do dia 26 de julho dia da Festa de Santa Ana de Vila Nova. Antigamente, há uns 50 anos atrás, a Festa do Divino era em janeiro e a de Santa Ana no seu dia. Entretanto, em 1953 ,resolveram unicar a Festa, e celebrar juntos O Divino Espírito Santo e Santa Ana.
São “as novenas”, nove encontros de fé, que acontecem entre o dia 17 de julho e o dia 26, onde sob um tema específico, principalmente os dons do Espírito Santo, o povo se reúne para cantarem e rezarem em honra ao Divino e Santa Ana, recebendo os paraninfos da Noite lembranças da Festa e fazendo ofertas ao Divino. Algumas comunidades como o Mirim, tem celebrado nove missas em vez de fazerem as novenas, quebrando com esta prática a verdadeira tradição da Festa.
06. A CORTE IMPERIAL
A Corte Imperial é outra tradição mantida na Festa do Divino de Vila Nova, há muitos anos. Embora na Festa do Divino da Vila Nova e nem no Mirim não é feito fora da Igreja o Império do Divino como se vê nas Festas das Ilhas dos Açores, principalmente nas Ilhas de São Miguel, Pico , Faial , Ilha Terceira e São Jorge
Almir Martins - Fone / Fax 255.1324 – 255.5801
E Vila Madalena co-irmã de Imbituba, mesmo assim, se organiza os locais como se fossem o Império do Divino, para manterem a tradição, e onde os festeiros em procissão com bandeiras e indumentárias do Espírito Santo, nos dias principais da Festa, apanham o Imperador e a Imperatriz para as celebrações festivas .
A CORTE IMPERIAL é formada pelo Imperador, a Imperatriz e os Pajens de Honra e as daminhas com ricas indumentárias . Existe no momento do Ofertório da Missa festiva do Domingo a “ cerimônia da coroação” do Imperador e a entrega do cetro Imperial á Imperatriz pelo padre celebrante da Missa.
No momento do Ofertório, a Cantoria da Bandeira também se faz presente com cantos repentistas em honra ao Divino:
No Final da Missa , a Corte Imperial instalada no Alta da Igreja, deixa a Igreja e vai para o Salão de Festas acompanhada com a Cantoria do Divino.
As Cores predominantes nas festas do Divino da Vila é o Vermelho e Branco. O Vermelho (fogo / fé/ amor) do Espírito Santo e o branco da Pomba do Divino( paz).( vide significado das cores)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PARA CITAÇÃO
ALMIR MARTINS é natural de Imbituba. Nasceu em 21 de julho de 1952. Poeta, escritor e pesquisador do folclore em Santa Catarina. Cantador de Reis e do Divino. Possui vários CD´s gravados ,onde canta e resgata o folclore de Santa Catarina, entre
eles: “ Cantorias do Folclore Brasileiro”; “ Açorianas”; “ TERNOS DE REIS ESTRELA GUIA” para a sua Família Martins e “ Canções da Fé” .
Apresentador e produtor do Programa “ Cultura Açoriana” na Rádio Difusora e Imbituba, onde apresenta só o folclore ( história e músicas) de Santa Catarina e do folclore brasileiro.
Em 1995, oficializou a Agremiação folclórica, que já existia há mais de setenta anos, e divulgou em SC e pelo Brasil, seu conhecido grupo folclórico da Família Martins – O Grupo Folclórico Estrela Guia.
Pertence à várias entidades literárias do Brasil e do Exterior. Primeiro presidente e fundador da Academia Sul Catarinense de Letras em 1985.
Autor de mais de duas dezenas de livros publicados de poesia, história ,direito e na área religiosa. Entre seus livros destaca-se “ O Novo Código Civil – Comentado Por Artigos”; “ A presença das Baleias no Sul”; “ O Romanceiro Açoriano”; “ A História de Santa Catarina” e “ As Virtudes de Maria” entre outros.
[1] Do livro “ História de Santa Catarina – Cultura e Folclore .MARTINS, Almir
.2.003.VoxLegem .inédito - e Informações constantes do Tomo XV, 1852, p.14-41 da
Carta de Luiz Ramirez -biblioteca Escorial – Madrid .Romanceiro Açoriano - 1997.
|