A FESTA DO
DIVINO ESPÍRITO SANTO E SUA ORIGEM
Nossa
popularíssima festa do Divino Espírito Santo não é comum a todo o
Brasil. Além do Rio Grande do Sul, onde é comemorada com festejos
populares em algumas localidades, especialmente Porto Alegre, -
celebram-na ainda em Santa Catarina, mas não em todo o estado, em
parte do estado de São Paulo, Espírito Santo e, segundo Luís da
Câmara Cascudo (comentários à obra Festas e tradições populares
do Brasil, de Melo Morais Filho. 3ª edição, Rio de Janeiro,
1946), "era festa querida, especialmente no Sul – (Santa Catarina e
Rio Grande do Sul) – Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro. Na
Bahia era festejada igualmente".
Hoje, porém, só parte de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul celebram a grande e tradicional festa do Divino. Mas não
esqueçamos que também em algumas localidades do estado do Espírito
Santo fazem celebrações ainda hoje.
Todos os núcleos coloniais, antigas colônias, desses estados onde se
tornou predominante à população de origem não portuguesa e onde, por
várias razões, como no nordeste, centro e centro-norte do Brasil,
influíram fatores alienígenas e indígenas (africanos e índios
principalmente), a festa do Espírito Santo passou sem deixar
vestígio, ou nunca foi comemorada popularmente.
No Rio de Janeiro, São Paulo, Santa
Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, onde a
população de origem portuguesa e sobretudo açoriana se fez sentir, a
tradição dos festejos populares em honra do Divino Paráclito
conservou-se por muito tempo em alguns, e em outros, como
entre os sul-riograndenses, perdura ainda com a mesma intensidade
embora já muito diferente, em tudo, de suas origens e comemorações
até fins do século passado, ou, como em São Paulo, onde ainda se
realizam as velhas folias dos açorianos e antigos portugueses
do continente. Em outros recantos do país não mais se realizam,
tendo a tradição desaparecido. No estado do Espírito Santo, por
exemplo, a festa do Divino, segundo Cristiano Fraga (Folclore,
nºs 7-8, Vitória, julho-outubro de 1950), foi proibida pela igreja e
pela polícia. Diz ele textualmente, falando da antiga festa e de sua
proibição:
"Os de agora não cantam mais, e por música levam apenas o grosso
tambor de maceta, que logo silenciam ao chegar a uma casa, calados,
cheios de poeira e limpando o suor. A gente simples do povoado
dá-lhes alguma moeda, café e até almoço ou jantar. O estandarte é
levado às pessoas da casa para beijar e para rodar por todos os
cantos com fim de trazer boa sorte e afastar os malefícios. – Tais
romeiros são entretanto, as mais das vezes, simples patuscos
finórios, dispostos a farrear alguns dias à custa da comida e do
dinheiro alheio. Por isso a proibição da igreja e da polícia nos
últimos anos, tem feito desaparecer esse último e esfarrapado
vestígio da tradicional festividade".
Mas em outros lugares, como em Portugal, talvez seja o principal
culpado da "morte" dessa tradição multi-secular a famosa
secularização tão amaldiçoada e comentada pelo Conde d’Aurora... (Roteiro
da Ribeira Lima. 2ª edição, Porto, 1939).
As festas populares do Espírito Santo foram
instituídas pela rainha Santa Izabel de Aragão e el rei dom Diniz,
lá pelo ano de mil duzentos e tantos, logo após seu casamento com a
rainha santa. Teve essa festa por berço a então vila de Alenquer, de
onde se irradiou por todo o continente português, instalando-se
definitivamente e com raízes profundas, no arquipélago dos Açores
desde o início de seu povoamento regular. Dessas ilhas teve
prioridade na instalação da festa a ilha de Santa Maria, que na
primeira metade do século XV já a celebrava com brilho e pompa.
Assim, enquanto na zona continental os festejos perdiam o antigo
esplendor e entusiasmo, nas ilhas mais e mais se incrementavam e
intensificavam.
Em 1492 foi erguido o melhor império da
ilhas, em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, sob a invocação do
Paráclito.
A pouco e pouco foram os impérios se renovando, com arte e
luxo, procurando cada ilha tê-lo maior e melhor. Era em frente
desses impérios, - capelas dedicadas e consagradas ao
Espírito Santo, - que se dava o bodo, isto é, a distribuição
de alimentos aos pobres no dia do Divino. Esta parte era a essencial
da festa e se realizava após a missa festiva. À tarde havia
procissão e, à noite, luminárias.
No século XVI o programa das festas foi
ampliado já no primeiro quartel, sendo introduzida cerimônia
especial para o peditório, para a guarda da coroa, procissão e
outros pormenores exteriores. Foi quando o simples peditório para o
bodo passou a denominar-se folia, observando ritual
extra, ritual este que também no Brasil, em particular no Rio de
Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (interior e
arredores da capital), bem como no Espírito Santo, foi observado com
mais ou menos rigor. Em parte ainda o observam hoje em certos
lugares do interior de São Paulo.
Compreendia, a folia,
a composição de um terceto, quarteto ou
quinteto de músicos, no geral violino (rebeca), viola ou guitarra,
pandeiro e ferrinhos, e mais outros tantos não músicos, para
auxiliarem a cantoria e receberem óbulos.
Esse grupo, com vestuário característico quase sempre, - chapéu que
parecia mitra episcopal, tocando e cantando, percorriam as ruas da
localidade pedindo a esmola para a celebração da festividade e
distribuição do bodo.
O cancioneiro dessas folias era interessante e pitoresco não
raro, conforme se pode verificar pelo que ficou conservado através a
tradição e os "reminiscentistas" daqueles tempos:
Ajunte-se gente toda,
A quem nós queremos tanto;
Vamos buscar a coroa
Do Senhor Espírito Santo.
Lá vem o Espírito Santo
Mais alvo do que um cristal;
Dera-lhe o vento das asas,
Começara a voar...
Nossa Senhora das Neves,
Eu no vosso adro estou!
Botai-me a vossa benção
Que sem ela me não vou.
Abri-vos portas do céu,
Com muito grande alegria!
O Divino Espírito Santo
Está em nossa companhia.
Deus vos salve, casa santa,
De Jesus acompanhada,
Onde está o cális bento
Mais a hóstia consagrada.
Bendito e
louvado seja
O Santíssimo Sacramento,
Pois Ele é pai dos Anjos
E dos Anjos alimento.
Divino
Espírito Santo
Senhor de ceptro e coroa,
Vós na terra sois Pombinha,
No céu Divina Pessoa.
Estas sete quadras são as populares,
tradicionais, das folias do Divino nas Ilhas dos Açores.
Há, entretanto, muitas outras, ocasionais e consagradas a cada caso
especial, como a visita aos conventos, casas de saúde, autoridades e
outras, que também já se tornaram tradicionais, muitas delas.
De ilha para ilha estas quadras variam. Muitas, porém, das acima
transcritas são comuns a todas. A sétima, por exemplo, veio parar no
Brasil, levemente alterada. Cita-a Melo Morais
Filho (ob. cit.) nas antigas folias do Rio de Janeiro:
Meu Divino Espírito Santo
Divino e celestial,
Vós na terra sois pombinha,
No céu pessoa real.
No Rio Grande do Sul tivemos notícias de quadras que teriam sido,
outrora, cantadas ao voltar a folia ao Império. Devemos notar
que entre nós, ao que parece, pois não encontramos referência
alguma, o termo folia não foi usado. Em lugar dele, porém,
empregavam a palavra bandeira, - a Bandeira do Divino vai
chegando; - a Bandeira vai passando, - para designar não só o
estandarte mas, por extensão, o conjunto ou grupo dos que faziam e,
ainda hoje, fazem o peditório, não mais cantando, mas soltando
foguetes...
As quadras a que nos referimos, cantadas no Rio Grande do Sul,
foram-nos comunicadas pelo sr. Joaquim Saturnino dos Santos Paiva,
falecido no ano de 1938 com mais de 80 anos de idade. Esse senhor
bastante ilustrado e antigo jornalista, foi secretário na última
fase do Partenão Literário. Note-se a semelhança e mistura de versos
com as citadas açorianas:
Bendito e louvado seja
O Divino Espírito Santo!
Que festeje a gente toda
A quem nós queremos tanto!
Ó Divino Espírito Santo,
Santa pomba divinal,
Abençoai vossos fieis
Na vossa festa terreal.
Em São Paulo, segundo Belmonte (Tradições paulistas: A festa do
Divino. DEIP, São Paulo, sd), entre muitas outras canta-se a
quadra seguinte, entoada por ocasião do peditório, e que também
possui reminiscência das velhas quadras açorianas, citadas por
Gabriel de Almeida (Fastos Açorianos. Lisboa, 1889) e Luís da
Silva Ribeiro (Os
foliões do
Espírito Santo nos Açores.
Angra do Heroísmo, 1942):
O Divino Espírito Santo,
Não pede por precizá;
Quem pede são seus devoto,
Que lhe querem festejá.
No Rio de Janeiro, segundo Melo Morais Filho, cantavam assim:
O Divino é muito rico,
Tem brasões e tem riqueza,
Mas quer fazer sua festa
Com esmolas da pobreza.
E no Rio Grande do Sul, conforme o já citado senhor Santos Paiva,
cantavam, entre outras que o informante não recordava, a seguinte:
O Divino Santo Espírito
É senhor da terra e céus;
Mas quer que a festa se faça
De esmolas dos filhos seus.
Não temos certeza se as quadras citadas, fornecidas a nós pelo
senhor Santos Paiva, foram por ele ouvidas em Porto Alegre ou na
cidade do Rio Grande, onde viveu por longos anos como funcionário da
Alfândega. Faleceu em 1938 como arquivista aposentado da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre. Pertenceu ao Partenão Literário, última
fase, tendo sido, segundo declarou, o último secretário da ilustre
entidade desaparecida pouco antes da proclamação da República.
Do que eram as folias do Divino no
interior do Rio Grande do Sul na segunda metade do século passado,
diz-nos Luís Araújo Filho (Recordações Gaúchas. 2ª edição,
Porto Alegre, 1905):
"Já com sol alto, ao treparem uma pequena coxilha, avistaram ao
longe um grupo de 20 a 30 pessoas, a pé e a cavalo, que avançava
vigorosamente no sentido oposto ao em que eles iam. Em vista dos
acontecimentos da noite os viajantes sentiram uns certos assomos de
desconfiança, mas, pelo rumo que traziam os do grupo, em breve se
fez a calma, quando o piá Nadico afirmou ter ouvido uns sons como
toque de tambor e avistou entre as pessoas uma bandeira. – Era o
Divino. – (...) Folia chamava-se, como se sabe, o ato de
tirarem esmolas de casa em casa, pela campanha, e foliões os
indivíduos que disso se ocupavam, - quase sempre quatro,
representando uma comparsa de música sacra, do seguinte modo:
alferes da bandeira, que era quem a carregava e era o chefe do
serviço, desempenhando também a parte de tenor; um tocador de
viola, outro de rabeca, que faziam de barítono e contra baixo,
e um que tocava tambor e cantava com voz de tiple. Este era
sempre menino. Às vezes acrescentavam um pandeiro. – Esta era a
genuína folia, a dos antigos. – Os foliões eram sempre bem esperados
e ainda melhor recebidos. – Os moradores, com as respectivas
famílias, iam encontrá-los a uma certa distância, e a dona da casa
tomava das mãos do alferes a bandeira, que empunhava com
santo recolhimento, sem dizer nada aos recém-vindos".
Ao chegarem à casa do homenageado, iniciavam as cantorias: primeiro,
o peditório, depois, o agradecimento e, se a hora não permitia irem
além, acrescentavam o pedido de pousada e, no dia seguinte, ao
reencetarem o itinerário, novo agradecimento.
O citado autor, Luiz Araújo Filho, cita as seguintes quadras
relativas a cada "ato":
Peditório:
Aqui chegou o Divino
Que a todos quer visitar
Vem pedir-vos uma esmola
Pra o seu império enfeitar.
O Divino Espírito Santo
Não pede por carestia,
Pede somente uma esmola
Pra festejar o seu dia.
Agradecimento:
O Divino Espírito Santo
Agradece a sua oferta
Que lhe deram seus devotos
Para fazer sua festa.
O Divino agradece
Aos senhores e senhoras,
E também aos inocentes,
Que lhe deram sua esmola.
Pousada:
A Pombinha do Divino
De voar já vem cansada,
Vem pedir aos seus devotos
Que lhe dêem uma pousada.
Despedida ou novo agradecimento:
O Divino Espírito Santo
Vai seguir sua jornada,
Agradece os seus devotos
Que lhe deram esta pousada.
Se despeçam, nobre gente,
Que a Pombinha do Divino
Vai seguir sua jornada
Visitar outros vizinhos.
"Os moradores, - continua a informar-nos Luís
Araújo Filho, - acompanhavam a folia até longa distância e,
se havia casa perto, iam até lá; e assim sucessivamente de casa em
casa, iam os foliões percorrendo municípios e comarcas,
arrecadando as dádivas dos devotos: dinheiro, jóias e coisas de
valor, que tudo era meticulosamente entregue ao respectivo festeiro,
sem quebra de um vintém, porque eles, além de honestos, eram
sustentados à tripa forra pelos habitantes que os
hospedavam".
E conclui dizendo que "o andar dos tempos devia trazer consigo grave
transformação nestes costumes, e os foliões de hoje, de cuja
probidade muita gente duvida, se não têm calos devem ter pelo menos
bem bons arranhões na consciência no tocante à arrecadação".
Isso há, pelo menos, cinqüenta anos. Hoje... para que comentar?
Como se vê, a tradição conservou mais ou menos, até certa época, o
antigo ritual das folias açorianas, inclusive os bandos com
instrumentos musicais. Por uma fotografia de fins do século passado,
que nos foi gentilmente oferecida, verificamos que também no Rio
Grande do Sul, - a fotografia é de um peditório nos arredores de
Porto Alegre, - Belém Velho, - a folia existiu, embora com
outro nome, acompanhada dos seguintes instrumentos: gaita de fole e
violões. Dançavam, também, como se verifica dessa fotografia.
Mas, a pouco e pouco, tudo se foi modificando e os alegres cânticos
de outrora foram substituídos pelos... incríveis foguetes de nossos
dias! E isso até mesmo em plena cidade e não somente nos subúrbios.
Quando a festa do Divino Espírito Santo
recebeu a organização nova, as folias com cânticos e músicas,
- houve oposição e restrições às festividades por se tornarem
demasiado mundanas: o bispo dom Frei Valério do Sacramento, em 1774
tentou terminar com as festas "proibindo as folias e bailes do
Espírito Santo".
Nada, porém, conseguiu além de algumas
reformas, pois o povo se opôs tenazmente às ordens do senhor bispo.
Houve ainda outras tentativas idênticas, mas todas sem resultado: a
festa era exigida e a própria Câmara Municipal – isso nos Açores, -
intervinha implorando a graça de ser celebrada como de costume. E as
ordens episcopais, assim, eram relaxadas em parte, tratando-se,
apenas, de evitar abusos e demasias mundanas: luxos, bailes e
exibições cômicas, como acontecia muitas vezes.
Aliás, a primeira proibição da festa do Espírito Santo nas ilhas dos
Açores, data de 1523, anterior à introdução do instrumental nas
folias, pois que estas somente em fins do século tiveram maior
incremento no continente de onde, pouco depois, passaram às ilhas.
A razão dessa primeira proibição foi a seguinte: o povo, cuidando
excessivamente dos luxos nessas festas, fazia com elas e nelas
gastos que, não raro, levavam os senhores da folia
(festeiros) à ruína. O luxo e a ostentação nos jantares em honra do
Divino e a riqueza do bodo alarmou o governo e daí a
proibição decretada por dom Manuel que, mais tarde, em 1559, nas
constituições do bispado insulano dizia, reforçando, em parte, a
proibição anterior: - "Que se não fizessem impérios, imperadores e
imperatrizes em muitas domingas porque gastavam em comidas e festas
o que não têm; e em algumas partes fazem diversos imperadores, e o
que é pior com diversas superstições se encomendam ao Espírito
Santo".
Mais adiante se proíbe a imperatriz: - "Que haja um só imperador,
com pena de um carretel de cera, pela segunda vez dobrada, e pela
terceira um cruzado para cera e vinho".
A festa, porém, continuou sempre e das
ilhas veio para o Brasil, trazida, como é bem de imaginar-se pelos
casais açorianos que povoaram o Brasil Sul, em especial Santa
Catarina, a partir de 1748, e o Rio Grande do Sul, a partir de 1751,
embora já muito antes casais açorianos, avulsos, tivessem aportado e
se instalado por todo este sulbrasílico, desde 1737.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, bem como em Minas Gerais, a origem
da festa deve ter sido continental, enquanto que no Espírito Santo
parece-nos ter sido introdução açoriana. No Ceará e no Pará também
existiram núcleos povoantistas açorianos mas, ao que parece, - pelo
menos não encontramos referências, - em nada influíram, ou melhor,
foram totalmente absorvidos sem deixar maiores vestígios.
Para nós no Rio Grande do Sul, a festa do Divino Espírito Santo é
uma das mais vivas, senão a mais viva reminiscência açorita a par de
muita cousa no linguajar de nosso povo, conforme podemos verificar e
registramos em nossos ensaios de curioso – "Arcaísmos portugueses na
linguagem popular do Rio Grande do Sul" (Boletim do Instituto
Histórico da Ilha Terceira, v. V, Angra do Heroísmo, 1947), - e
– "Influência e reminiscências do linguajar português dos séculos
XVI a XVIII na linguagem popular brasileira de nossos dias" (Anais
do I Congresso de Historia da Bahia, Salvador, 1950), entre
outros.
Devemos, entretanto, notar que as modernas festas do Espírito Santo
nada mais têm das que se celebravam nos séculos XVI a XVIII, e nem
das do século XIX. A festa tão somente religiosa (coleta, missa,
bodo, procissão), passou a ter partes profanas a partir do século
XVI: bailes públicos, no adro da igreja ou na rua, além de
peditórios com cantorias. Proibidos os bailes, tiveram início às
representações, ou autos já usados em algumas ilhas que nunca
adotaram os bailes. Com novas tentativas de proibição e reformas, as
festas se organizavam na praça fronteira ao império, à noite,
durante três dias consecutivos, com músicas, cantos, leilões e
"outras prendas", que tinham início na véspera do dia do Espírito
Santo com a coroação do imperador (ou festeiro), cerimônia que
também foi usada entre nós até 1889.
Com a proclamação da República, a coroa caiu... com dom
Pedro II, e o imperador do Divino também começou a usar... barrete
frígio, ou cousa semelhante, por medo dos famosos "históricos" e
valentões do novo regime...
Mas o império ficou e o imperador da festa do Divino continua,
mesmo porque o Divino nada tem que ver com a política... Em todo o
caso, para evitar confusões, denomina-se –
Imperador-festeiro.
Bom seria, entretanto, que se restabelecesse o antigo cerimonial da
coroação, o bodo e as luminárias, sem as profanidades
introduzidas ainda mais recentemente, com a da visita da bandeira
a certas casas duvidosas, onde são esfregadas nas camas pouco dignas
para... trazer sorte e bons "coronéis", ou pelos prados (atualmente
Jóqueis) e respectivas cocheiras, onde a bandeira do Divino é posta
(não sabemos se ainda fazem isso, mas vimos tais sacrilégios mais de
uma vez...) sobre os cavalos e éguas de corrida para dar sorte ao
feliz proprietário dos animais!
É que, modernamente, na Irmandade do Divino Espírito Santo existem
até pessoas católicas...
Isto no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Por tudo isso, queremos crer, voltar ao passado seria viver vida
nova e ... sã. Digam-no aqueles que ainda crêem no Brasil, na
sociedade e na moral cristã.
[1955] (SPALDING, Walter.
Tradições e superstições do Brasil
sul)
Veja também:
http://www.portaldodivino.com/ |