Origens da Festa do Divino

          Segundo o Centro ERNESTO SOARES de Iconografia e Simbólica, a instituição das festas do Império do Divino Espírito Santo celebrando o Pentecostes (representação da descida do Paráclito sobre os apóstolos) anda atribuída à Rainha Santa Isabel, na sua vila de Alenquer, em data que não obteve ainda o consenso dos investigadores.

          A. Rodrigues de Azevedo adianta, baseado numa escritura que existiu na Câmara de Alenquer, o ano de 1280.

          Enquanto Jaime Cortesão, adotando sugestão de frei Manuel da Esperança e tendo à vista documentos do Arquivo de Alenquer, afirma ter sido o Convento de S. Francisco da mesma vila o palco da sua primeira realização, em 1323.

         Outros autores optam pelo Paço da Vila de Sintra sem, contudo, especificarem a ocasião do evento.

          Porém, já no Compromisso da Confraria do Espírito Santo de Benavente, o mais antigo que se conhece, coevo da fundação da igreja do Espírito Santo dessa localidade que presumivelmente se verificou no primeiro quartel do séc. XIII, se alude à festividade do Império, o que leva a supor a sua concretização aí anteriormente a 1280, promovida ou inspirada por franciscanos de tendência espiritual. Os mesmos que secundando o proselitismo de Santa Isabel lograriam levá-la a patrocinar e, porventura, institucionalizar nos inícios do séc. XIV tais festejos com um aparato nunca antes visto, o que terá contribuído para radicar a tradição segundo a qual sob a sua égide e de D. Dinis se haviam originado.

       A maior prova da devoção pelo Divino Espírito Santo é que os festejos não partem da Igreja, mas, do povo que espontaneamente os promove, conservando uma tradição de séculos.

       A festa do Divino, conforme os historiadores, reporta-se a D. Isabel de Araújo, em Alenquer, convocando no dia de Pentecostes do ano de 1296, o clero, a nobreza e o povo, para tomarem parte das solenidades religiosas realizadas na inauguração de uma confraria, a que chamaram de Império. Todas as cerimônias realizadas nesse dia deveriam ser impressionantes. Desse modo, de todos os pobres assistentes aos ofícios religiosos, realizados na capela real, convidou-se o mais pobre para ocupar o dossel da capela-mor, o lugar do rei, o qual lhe serviu de cortesãos e os mais altos dignatários do rei lhe serviram de pajens. O pobre, então, ajoelhou-se sobre o rico almofadão destinado ao rei e, nessa postura, o bispo do paço lhe colocou sobre a cabeça a coroa real, enquanto, entoava o hino "Veni Creator Spiritus". Assim investido das insígnias reais, o pobre assistiu à celebração da missa. Em seguida, o pobre se dirigiu ao paço real, onde lhe foi oferecido um lauto jantar, servido pela rainha.

      Esta tocante solenidade encontrou eco nos fidalgos da corte, que, desejosos de seguirem o exemplo da abnegada humildade dos seus soberanos, a quiseram por em prática. Com a autorização do monarca mandaram fazer coroas, semelhantes à coroa do rei, tendo ao centro um medalhão com os símbolos da Santíssima Trindade. No dia de Pentecostes, então, passaram a fazer cerimônias idênticas à realizada no paço real. Foram essas coroas que os donatários das Ilhas dos Açores trouxeram para o arquipélago, onde, no dia de Pentecostes passaram a usar o mesmo cerimonial, iniciado na corte de D. Dinis e D. Isabel.

      Atualmente, as coroas já não são do mesmo tipo. são, porém, feitas de prata batida com relevo, assim como todo o seu conjunto, partem do largo arco, onde se vê uma pomba, em relevo, de asas abertas, quatro braços ou imperiais, que erguendo-se em forma convexa, se reúnem no topo, sustentando um globo sobre o qual se ergue uma cruz ou pousa uma pomba em atitude de vôo. Quando a coroa não está na cabeça de uma pessoa, o cetro é apoiado no aro, por entre os braços ou imperiais da coroa, descansando todo o conjunto sobre uma salva, ou seja, um prato liso de prata com cercadura lavrada, munida de um suporte, alargando na base a que chamam de pé da salva, e que serve para apoiar a coroa sobre o altar ou mesa. No lado detrás da coroa há um laço de largas fitas de seda branca, cujas pontas caem, sobre as costas, quando a coroa está apoiada na cabeça. Como acessório da coroa há, ainda, a bandeira, vasto pano de damasco de seda vermelha, orlado de franjas de ouro, tendo no centro de uma das faces, uma coroa e no centro da outra face, uma pomba de asas abertas, sobre flamante resplendor , tudo bordado a ouro, assim como as flores que ornamentam os cantos de ambos os lados. A bandeira está presa a uma haste de boa madeira envernizada, tendo, na parte superior, um globo de prata sobre o qual pousa uma pomba do mesmo metal, de asas abertas.

     Nas freguesias rurais, os impérios constituem propriedades do povo desses povoados. Aos chefes das famílias e aos filhos varões de maior idade, compete a administração dos impérios, para os bodos e festejos a se realizarem nos domingos de Pentecostes e da Santíssima Trindade, existe uma comissão para cada império. As comissões administrativas compõem-se de um presidente e de cinco vogais. Ao primeiro, dá-se o nome de Procurador e, aos outros, o de Irmãos Esmolares, Mordomos ou Governantes, conforme o lugar. O procurador de uma gerência futura é sempre nomeado por sorteio, segundo os nomes apresentados pelo futuro procurador e irmãos esmolares da gerência anterior.

 

Pintura de Hildebrando Silva

 

 

         A Festa dos Tabuleiros (Tomar - Portugal) considerada a mãe de todas as festas ao Divino Espírito Santo celebradas nos Açores, Brasil e América do Norte, e uma das mais famosas festas de Portugal, a festa dos Tabuleiros é uma majestosa ação de graças à abundância de pão, evocada na inesquecível procissão de ofertantes que desfilam de branco com lindos tabuleiros à cabeça, bem enfeitados de pão, flores de papel, espigas de trigo e verdura. Atualmente esta Festa realiza-se de 4 em 4 anos.

         A implantação das Festas do Divino Espírito Santo em terras de Portugal é, por norma, atribuída à mui amada Rainha Santa Isabel, a dama do milagre do pão e rosas.

         Em 1282, a Infanta Isabel de Aragão foi dada em casamento ao jovem D. Dinis, Rei de Portugal. Isabel, mulher de uma fé inabalável e coração terno, resistiu às investidas iradas do seu esposo, pois este considerava impróprio que a Rainha se mesclasse com os pobres e despojados do seu reino, entre os quais os Judeus Sefarditas, freqüentemente perseguidos na Península Ibérica. Mas Isabel, devido às suas fortes convicções cristãs, ignorava as repreensões do esposo, saindo freqüentemente pelas portas traseiras do palácio, disfarçada de mulher do povo para levar esmolas aos seus sujeitos mais carenciados. Utilizou toda a sua influência real para proteger os Judeus, os quais mais tarde a proclamaram a Rainha Santa pela proteção e benevolência que lhes dedicou.

         Reza a história que certo dia enquanto a Rainha passava pelos jardins, dirigindo-se as portas do palácio, com pão para os pobres em seu avental, esta cruzou-se com o seu esposo. O rei a interpelou:

"Senhora, que levais em seu regaço?".

"Nada, Senhor. Rosas apenas".

"Vejamos, então".

A rainha abriu o seu avental e caíram rosas ao chão.

         

     As coroas do Divino Espírito Santo são sorteadas pelas casas da freguesia, cabendo a cada uma delas permanecer com a coroa pelo período de oito dias, começando no domingo de Páscoa e terminando no domingo da Santíssima Trindade. Ao chefe de família ou filho sorteado chamam, então, de imperador. O ato do sorteio é chamado de "tirar os pelouros". O acontecimento é igualmente anunciado da porta do império em voz alta.

    Terminado o período de permanência da coroa em uma casa, sempre aos domingos ao entardecer, o imperador sorteado para o período seguinte vai buscá-la na casa do antecessor, trazendo-a acompanhado de um cortejo de homens e mulheres em duas alas, que seguem o caminho cantando a "Ave Maria".

    Independente dos pelouros para o sorteio da coroa, há ainda o sorteio de outros cargos e encargos, como, por exemplo, o mordomo do fogo e os seus onze companheiros, que têm a seu encargo a aquisição dos foguetes e fogos de artifício; o encargo de se celebrar cinco missas por alma de qualquer pessoa a escolha do sorteado; o encargo de contribuir para o bodo do ano seguinte com vinte pães. Todos estes pelouros são anunciados da porta do império para a assistência que circula em frente, participando do arraial ( festa), que se desenrola em frente ao terreiro.

    O objetivo dos impérios é o da distribuição de esmolas em louvor do Divino Espírito Santo, nas vigílias e nos domingos de Pentecostes e da Santíssima Trindade. 

    Nos sábados, vésperas desses domingos, chamados de sábado do Espírito Santo e da Trindade, há distribuição de esmolas de pão, carne e vinho. Um pão, um prato de carne e vinho são distribuídos a cada família que ali se apresentam com um cartão previamente fornecido. As esmolas são colocadas em grandes mesas, feitas de tábuas de soalho, dispostas seguidas, apoiadas sobre cavaletes. No centro das mesas, entre flores,  é colocada uma coroa do Espírito Santo. No dia anterior, sexta feira, o pároco da freguesia vai benzer as esmolas e o pão que está na despensa.

   Nestes dias, a festa é geral e a alegria enche os corações. As bandas de música, filarmônicas ou liras tocam num palanque, enquanto estouram foguetes e vinho é distribuído aos presentes.

   No domingo, logo de manhã, carros de boi, de sebes (estacas) novas, enfeitados com galhos de faia do norte (espécie de vegetação) e flores, correm a freguesia de ponta a ponta, carregados de pães envoltos em alvos lençóis, na distribuição do vodo (bodo) por todas as casas, dando a cada pessoa dois ou três pães, em louvor do Divino Espírito Santo. Na hora da missa, chega o imperador com o seu cortejo para a coroação.

   Na segunda feira seguinte, também chamada de segunda feira do Espírito Santo, novo bodo de pão é distribuído pela freguesia. À tarde, com o pão que sobra, partido em fatias, é distribuído outro bodo e vinho a todos que assistem ao arraial, que nestes dias, continuam pela noite com música, fogos e animação.

 

Origem alemã: Nos Fastos Açorianos do o Sr José Torres encontramos que

          «Fomes apertadas nos estados allemães determinaram um dos imperadores da dynastia, Othon, a lançar os fundamentos desta instituição, como banco formado de esmolas para acudir a pobres nos anos de penúria. Da divindade que invocavam, do imperante que tomara a iniciativa, nasceram os festejos religiosos, que a confraria imperial votara ao culto do Espírito Santo nesta quadra do anno, devoção e costume que de lá se propagou pelos estados da Europa Christã, cujos reis marcharam á frente da obra a seu modo civilisadora e humanitária, até que o povo lIehs foi usurpar o privilegio e se apoderou da instituição pia . . . »

 

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