Divino Espírito Santo
Ilha do Pico: ilha com presente que vive transportando um passado
que a ajudará a preparar o seu futuro…

 

Ontem como hoje, as festas do Espírito Santo são vividas pelo povo da ilha do Pico com grande tradição e muita devoção. Diz-se terem vindo do Continente Português que, por sua vez, recebeu esta tradição da Alemanha.

Estas festas têm uma origem muito remota, transportando-nos ao século XIII, reinado de D. Dinis, em que sua esposa, rainha Santa Isabel, numa cerimónia especial já coroava os mais pobres, em cerimónias festivas.

As festas têm sofrido algumas transformações, tanto a nível de apresentação e dos rituais que as mesmas envolvem, bem como da motivação para as mesmas.

Estas festas vêm da grande devoção das nossas gentes, que em horas de aflição, imploram ao Divino Espírito Santo, para que interceda por elas, a fim de que, em situações de sismos, a terra deixasse de tremer ou também lhe conceda alguma graça muito ambicionada.

Não poderemos descurar que os Açores e, em especial, o Pico após as catástrofes sísmicas que nos assolaram, já por diversas ocasiões, deram origem a um fulcro emigratório de registo, a par da fuga à guerra colonial e das dificuldades económicas em que o nosso povo vivia.

Ao deixarem o seu país, os seus amigos e a sua família levavam consigo uma vontade forte de progresso e de um bom êxito acompanhado de grandes promessas ao Divino.

Para além dos emigrantes, hoje muita gente cumpre promessas dando grandes jantares com centenas e centenas de pessoas.

Embora cada local da ilha tenha um cunho próprio para estas cerimónias, a fé e a abundância reina em todas as localidades.

Muitos dias antes, o imperador/ mordomo (o que faz a festa) começa numa azáfama sem fim…

É a compra de todos os preparativos para as “sopas”- carne, farinha para o pão, que inicialmente era cozido em casa, mas, na maior parte dos casos já é confeccionado na padaria ou nos salões paroquiais apetrechados com grandes cozinhas. São amigos, conhecidos e os parentes que se chegam para ajudar mesmo sem convite ; não vá o Senhor Espírito Santo castigar

 
 

 

Em algumas freguesias, concretamente em S. Roque, quando há imperador, este recebe a coroa no Domingo de Páscoa e, a partir desta data e nas sete semanas seguintes reza-se / canta-se o terço todos os dias junto a um altar preparado por quem sabia, na melhor sala “ a sala de fora “.

Hoje compram-se flores para se enfeitar casas, igrejas, etc enquanto, antigamente, todos tinham o maior prazer em ofertar as suas flores para o altar do Divino. No altar cheirava a manjerico e brilhava o verde do trigo previamente demolhado.

A função era preparada semanas antes, pois o gasto e o muito trabalho o exigia.

Ao chegar ao local da festa viam-se caldeirões a fumegar, longas mesas artisticamente decoradas, onde se iriam sentar centenas e até, às vezes, milhares de pessoas e onde abundavam medas de pão d´água e de leite e o delicioso arroz doce.

A refeição é constituída pelas sopas acompanhadas de carne cozida, seguindo-se a carne assada, acompanhada, em algumas localidades, de batata ou arroz e por fim o sempre tradicional e muito apreciado, arroz doce.

Antes de ser servido o jantar, as sopas são benzidas pelo sacerdote da freguesia.

A celebração da missa com solenes cânticos e muito participada, tem um momento alto que é o da coroação tal como no tempo dos Imperadores da Alemanha.

De tarde, junto à Igreja são distribuídas a quem por ali passar, as saborosas “vésperas”, confeccionadas com farinha, leite banha de porco e, mais recentemente, manteiga de vaca e ovos.

É bonito ver-se o cortejo com as vésperas ou as rosquilhas, que nalgumas localidades se realiza no início da tarde.

Este é um gesto de partilha que bem caracteriza o povo desta Ilha Montanha.