O s Leilões
Por vales e serras, por estradas e povoados, pelas ruas da capital, meses antes da festa do Espírito Santo, garridos foliões dispersavam-se em bandos, angariando esmolas para as festas. Engrossando a turma dos foliões, cercando ou ladeando a bandeira, vinham os tocadores de ferrinhos, de pandeiros, de pratos, de tambores e de violas, em risonho convívio, pulando, tocando , cantando:
Dai esmolas ao Divino, Com prazer e alegria, Reparai que esta bandeira É da Vossa freguesia.
A essas folias acompanhava um ou mais animais de carga, para conduzir dádivas e promessas, prendas para os leilões, objetos de difícil transporte. Tudo se recebia. Ao escurecer, aos primeiros repiques da novena, as fogueiras estavam acesas ao largo, o povaréu sentado ao acaso, ou apreciando o leilão, o "pata-choca" do leiloeiro, de opa vermelha e salva de prata, apregoava ofertas, fazendo rir a multidão que arrematava roscas, pães-de-ló, segredos, marrecos, galinhas e o mais que havia, aos piques, às vezes convencionais, que exageravam os preços.
E o povo bradava: Toca a música!
O leiloeiro:
- Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três....Psiu! Psiu! Todo o homem que é casado Deve ter seu pau no canto, Para benzer a mulher Quando estiver de quebranto.
Bravo! bravíssimo! - Toca a música!...
Eis senão quando, o jocoso leiloeiro, tomando um casal de pombos de asas amarradas com fitas, arqueava o braço, adiantava-se para o batente do coreto, "arrulando", apregoando: - Currupacos, papacos.... Quanto me dão pelos pombinhos?
E os lances choviam, os namorados metiam-se em brios, para impressionar as donzelas, despendendo-se grandes quantias na aquisição das prendas.
Um outro leiloeiro, o Chico-Gostoso apregoava ofertas, improvisando versos paluscos, com sua opa escarlate, com a sua salva de prata: Quem tiver o seu segredo Não conte a mulher casada, Que ela conta ao marido, O marido à camarada.
- Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três, dou-lhe tudo desta vez!
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