As Barracas

    Terminados os fogos de artifício, variadas eram as atrações, de acordo com Mello Morais Filho, para os que ficavam até o fim da festa do Divino.

 

    O campo de Santana sintetizava o grosso da função. Na direção da Rua de São Pedro, em frente ao quartel, alongava-se uma linha de barracas com as suas cumieiras, que semelhavam à noite pirâmides de fogo ou tetos incendiados; e nos portais da rua e aos balcões, os vendedores de sortes, de entradas e de comidas, estendiam o braço, gesticulavam, gritavam como possessos, ensurdecendo os transeuntes.

 

    As músicas estrondavam de dentro, as famílias e o povo formigavam defronte, e como uma chuva de pirilampos que se abatesse dos ares, as lanterninhas de folha com vela de vintém, das quitandeiras sentadas, faiscavam ao largo, alumiando nos tabuleiros e bandejas os louros manaués, as cocadinhas brancas e os bolinhos de aipim, feitos com esmero e asseio pelas laboriosas e inestimáveis doceiras daquele tempo.

 

    Ném só de bebidas, comidas e fogos viviam as barracas. Os espetáculos nas barracas constituíam o divertimento predileto de metade do público, que os freqüentava com assiduidade. Havia de tudo um pouco nas barracas: espetáculos teatrais e de circo.

    As bandas de música faziam-se ouvir por toda a parte.

 

    Na barraca de Madame Bertheaux e Maurin, a ginástica e os quadros ao vivo, de reproduções históricas, tornavam-se tentação irresistível para as pessoas que, depois de apreciarem as magistrais execuções da banda de fuzileiros, que tocava na varanda, iam deleitar-se a mais não poder, em presença dos proclamados quadros impressionistas.

 

    Não menos freqüentada era a barraca de M. Foureaux, com as suas cenas mímicas, suas pirâmides humanas, seus volteios eqüestres, onde os artistas Carlos Varin e Batista Foureaux executavam exercícios de bolas, equilibravam-se em garrafas, desempenhando igualmente, admiráveis evoluções em argolas volantes.

 

    A barraca das "Três Cidras do Amor", de propriedade do Teles, levava de vencida a todas as outras, não pela originalidade das representações, mas ainda pela variedade e distinção de seus freqüentadores. E quem a freqüentava? A plebe e a burguesia, o escravo e a família, o aristocrata e o homem de letras. O aspecto era modesto, o letreiro era ilustrado com três cidras monstruosas, pintadas a óleo nas duas extremidades, e um triângulo de pequenas bandeiras, enfiadas numa corda, formava-lhe o frontão.

 

    A barraca do Teles era freqüentada por: Gonçalves Dias, Porto Alegre, Paula Brito, João Caetano, entre outros.

 

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