A Freguesia do Ó é um bairro que
tem o privilégio de viver sua caminhada ao redor da
igreja. Desde o início dessa povoação (1580, ano da
fundação do bairro), vive sob a invocação de Nossa
Senhora do Ó.
Em 1610, quando
Manuel Preto (fundador do bairro) e sua esposa Agueda
Rodrigues erigiram a
primeira capela, foi sob a proteção de Nossa Senhora
da Expectação. "Expectação" que vem do latim e significa
"Espera". Maria, mãe de Jesus, está grávida, a espera do
Salvador. Como sua festa é 18 de dezembro, a Igreja
canta, no período de 17 a 23 de dezembro as
antífonas do Ó, que são invocações que tem o sentido
de "espera", o mesmo que Maria. E, hoje séculos depois,
aqui nos encontramos fiéis devotos da mesma Senhora
cantando o mesmo canto.
Nessa mesma
Freguesia, fiel às tradições e a religiosidade, que
lentamente evoluiu, as quermesses e as festas,
principalmente a do Divino, sempre foram ansiosamente
aguardadas por todos e celebrada com grandes festejos.
O culto ao Espírito
Santo, tem origem na Antiguidade. Entre os israelitas, a
Festa de Pentecostes, com outro sentido a dos Cristãos,
era celebrada cinqüenta dias (sete semanas) depois da
Páscoa, sendo uma das quatro festas mais importantes do
calendário judaico. Os cristãos, cinqüenta dias depois
após a Páscoa celebram, há dois mil anos, o Pentecostes,
para festejar o nascimento da Igreja. Portanto a festa
do Divino é para marcar que a Igreja de Cristo é
governada pelo próprio Espírito Santo. Surge também a
idéia de dar forma visual ao Espírito Santo e baseado na
Escritura, que descreve o batismo de Jesus quando o
Espírito se manifesta como o pouso de uma pomba sobre
Cristo, símbolo que é mantido na tradição da festa.
Já o culto ao Espírito
Santo, sob a forma de festividade, no sentido que iria
adquirir mais tarde, se cristaliza no início da Baixa
Idade Média, na Itália, com um contemporâneo de São
Francisco de Assis, o abade Joachim de Fiori (morto em
1202), que ensinava que a última fase da história seria
a do Espírito Santo. Suas idéias chegaram à Alemanha e
espalharam-se pela Europa.
Em Portugal, no século
XIV, a Festa do Divino já se encontrava incorporada à
Igreja, como festividade religiosa. A responsável por
essa institucionalização da festa em solo português foi
a Rainha D. Isabel, esposa de D. Diniz (1279-1325), que
entregou seu cetro e sua coroa ao Divino Espírito Santo,
pedindo paz para seu país que estava em guerra. Vem daí
a tradição do Império, local sempre ricamente
ornamentado onde ficam a Imagem do Divino Espírito
Santo, o Cetro e a Coroa, simbolizando que é Dele o
reinado durante o período da Festa.
A Festa foi introduzida
no Brasil por nossos colonizadores portugueses,
provavelmente desde o século XVII, e, em São Paulo, a
Paróquia Nossa Senhora da Expectação é uma das que
guarda, com fidelidade, essa Tradição. As figuras do
Imperador, Capitão do Mastro e Alferes da Bandeira, são
os escolhidos para presidirem a Festa.
Primeiro vem a Novena que prepara os corações para
receber os dons do Espírito Santo. São nove dias de
muita meditação do Evangelho.
Em toda celebração
Eucarística da Novena, há a solene procissão de entrada
do cortejo imperial: Os festeiros Alferes da Bandeira,
Capitão do Mastro portando a Bandeira do Divino,
Imperador com seu manto vermelho, cetro e anel e pajens
carregando a coroa, se encaminham para o altar mor para
a celebração, com muita devoção e fé.
Durante a Novena, no
Domingo que antecede a Festa de Pentecostes, é feito o
Levantamento do Mastro Votivo no Largo da Matriz. Esse
Mastro é trazido em procissão por muitos devotos, à
frente o Capitão do Mastro e o Alferes carregam a
Bandeira e a imagem do Divino que ficarão no alto. Ao
som de sinos e queima de fogos, o Mastro sobe, avisando
a todos que Pentecostes está chegando. Permanece ali com
a bandeira hasteada mostrando que a comunidade está em
Festa.
A Festa de Pestecostes,
no Domingo, é grandiosa. Além da celebração Eucarística,
tem procissão luminosa, e sorteio para escolha dos novos
apóstolos, como foi feito, há 2 mil anos, com o apóstolo
Matias. Sob grande expectativa e com a certeza de que a
escolha é feita pelo Divino, o novo Capitão do Mastro,
recebe a faixa e a Bandeira e o novo Imperador, o manto
vermelho, o anel, o cetro e no trono é solenemente
coroado.
Aplausos, sinos
repicando, queima de fogos e, muita, muita, emoção.
O Império é montado
próximo á igreja, e nesse local é depositada a Coroa,
para visitação e onde são distribuídas no dia da festa,
as tradicionais "Rosquinhas do Divino", revivendo a
antiga tradição que simboliza a distribuição de
alimentos para os pobres. O pão era o alimento básico e
do pão nasceu a "Rosquinha" que se tornou símbolo da
partilha, solidariedade e fraternidade.
A igreja é ricamente
enfeitada, com os símbolos da festa, bandeiras e flores
vermelhas. O vermelho na Festa do Divino representa o
fogo, que foi uma das formas que o Espírito Santo se
apresentou aos apóstolos (línguas de fogo).
Durante a Festa são muitos os momentos de Fé e devoção,
principalmente no toque da Bandeira, agradecendo ou
mesmo pedindo ao Divino, sua benção e proteção.
A Festa do Divino,
retrata a riqueza da nossa cultura, e mostra a força da
Fé de um povo que sabe manter suas tradições. |