Câmara Municipal de Guarapuava
Histórico de Guarapuava
Por: Sandro Casagrande

 

 

Cavalhadas

HISTÓRICO.


Durante a dinastia carolíngia, em idos do século VI d.c., portanto há quase 1.500 anos, Carlos Magno, de religião cristã, lutou bravamente contra os sarracenos, de religião islâmica, impedindo-os de invadir o centro norte da Europa. O feito foi amplamente divulgado, como mostra de bravura e lealdade cristã, por trovadores que viajavam por toda a Europa e ficou sendo conhecido como a " Batalha de Carlos Magno 12 pares da França ", um verdadeiro épico cantado em trova, como forma de incentivar a população cristã contra as investidas dos exércitos islâmicos que apesar da derrota na batalha de Carlos Magno, não abandonou as investidas principalmente ao sul da Europa, vindos da Mauritânia. Conhecidos como mouros, os muçulmanos da Mauritânia, invadiram, nos idos do século VII, o sul da Península Ibérica, denominada a região de Granada, de onde foram expulsos somente em fins do século XV. Foram quase 800 anos de ocupação moura por quase toda a Península, o que, inegavelmente, colaborou para o avanço tecnológico destas nações, uma vez que os muçulmanos árabes, propagadores do islamismo, eram mais evoluídos, do ponto de vista tecnológico, artístico e cultural, do que os cristãos da época. Os reis que resistiram a este avanço refugiaram-se ao norte da Península e mantiveram intacta sua cultura, vindo deles a iniciativa de expulsão da soberania moura na Península Ibérica. Incorporada ao folclore, durante séculos, a História de Carlos Magno era atração nas vozes dos trovadores e, somente em idos do século XIII em Portugal é que a Rainha Isabel resolveu instituí-la como uma festividade, aos modos de uma representação dramática, quase que como um jogo de xadrez afim de incentivar a instituição cristã e o repúdio aos mouros. Num grande campo de batalha, onde de um lado, o lado do poente , 12 cavaleiros cristãos vestidos de azul, a cor do cristianismo, lutam contra doze cavaleiros mouros vestidos de vermelho, encastelados no lado do sol nascente.

 

CAVALHADAS EM GUARAPUAVA.

Até o momento, não há como afirmar com precisão, o período em que se realizaram as primeiras cavalhadas em solo guarapuavano.
Certamente só aconteceram, quando da presença de número significativo de pessoas aptas a desenvolverem uma coreografia dramática, ou mesmo os jogos eqüestres , o predomínio e importância do muar no cotidiano das fazendas, impediu maior desenvoltura desses espetáculos. Com o advento do eqüino , principalmente do cavalo guarapuava é que poderiam ampliar esse tipo de corrida.
Outro ponto desfavorável eram as distâncias entre as propriedades rurais e a pouca quantidade de pessoas na pequena Vila.
No censo de 1872 Guarapuava apresentou o número de 8.462 habitantes, quando existem notícias das primeiras escaramuças.
Os pesquisadores destinguem as cavalhadas sulinas (dramática) com a nordestina (jogos) daí deduzir a influencia sulina em nossas cavalhadas pela dramaticidade envolvendo a apresentação.
As cidades litorâneas do Paraná já apresentavam tal folclore (1810), fornecendo subsídios para a realização das mesmas em solo guarapuavano. A parte lúdica , poderia Ter vindo com os escravos, como Belmiro de Miranda que era nascido em Alagoas.
Guarapuava foi sempre uma cidade que primou pela tradição em todos os setores da comunidade, lamentavelmente hoje estamos vendo o quase total desaparecimento das ricas tradições de nossa querida terra, para os jovens é o significado do progresso, da evolução, mas para os mais velhos, é o desejo de manter viva a memória , o passado e recordação dos bons tempos de uma vida tão diferente, mas tão cheia de paz, tranqüilidade, união e muita amizade.
Passamos então recordar uma tradição que data de 1870 quando os fazendeiros reunian-se no local onde hoje se encontra a Capela de são Sebastião, nas proximidades do aeroporto Tancredo Thomaz Faria , e ali faziam seus acampamentos para levar a efeito os ensaios para a tão aguardada a aplaudida Cavalhadas , que eram realizadas no dia 20 de janeiro perante uma grande assistência , que se locomovia até o local para aplaudir os cavaleiros com suas evoluções magistrais.
Segundo dados esse evento tinha na pessoa de Domingos Gamalier e outros entusiastas guarapuavanos a sua efetivação.
Passados alguns anos as Cavalhadas passaram a fazer parte integrante dos festejos do dia 2 de fevereiro consagrado a Nossa Senhora de Belém, nossa padroeira.
Assim, o grande acontecimento foi inicialmente levado a efeito no antigo 7 de setembro, onde hoje se encontra o Colégio Francisco Carneiro Martins . a seguir foi mudado o local para a Praça 9 de Dezembro, justamente em frente a nossa Catedral. Posteriormente tivemos nova mudança de local desta vez o antigo campo do Guarapuava Esporte Clube, no ano de 1941 para em seguida nova mudança, no Parque Lacerda Werneck, em 1988 no antigo Posto de Monta e por ultimo em 1998 no Parque de Rodeios do C.T.G na Vila Planalto.
O mais tradicional folclore que os portugueses trouxeram para Guarapuava foi o das Cavalhadas. Lembra a luta entre cristãos e mouros na Península Ibérica ( Portugal e Espanha) durante as Guerras da Reconquista , isto é, da expulsão dos mouros. Os cavaleiros são em número de 24, trajados a caráter, cada um com seu pajem. Os cambatentes são coletivos ou em duplas.a luta se inicia com os diálogos de provocações e a invasão do castelo cristão pelos mouros, que fazem prisioneira a Princesa Floripa , no espanhol floripes.
São várias as modalidades das escaramuças, as quais exigem muita perícia dos cavaleiros e tomam nomes como: Brasileira ou fila inteira, 4 tornos, Alcacilha de espada 4 pelotões com fila cortada . nessa parte há um intervalo, quando acontece o Lamento (canto) da Princesa . após os Cristãos investem contra o castelo com a cavalaria e a infantaria. A seguir ocorrem os torneios das Argolinhas, das Cabeças, a luta dos Dois Corações a de 4 Cavaleiros, as filas cruzadas, o entrevero guarapuavano, terminando com a tomada e incêndio do castelo pelos cristãos. A princesa é libertada e assinada a rendição do rei mouro, com sua conversão ao catolicismo romano.
Duas bandas de música animam o espetáculo: a Banda convencional que aplaude os acertos e a coragem dos combatentes e a banda Furiosa, com instrumentos desafinados, latas e panelas , que critica os erros. Nos intervalos, os " Mascaras " provocam o riso com a s suas palhaçadas, nunca faltando a triste figura de Dom Quixote. As cavalhadas do sul do Brasil, Guarapuava, Palmas, alegrete, Vacaria são as mais bonitas porque, além do lúdico e do religioso, apresentam também a parte dramática.
A importância de não deixar morrer esse folclore está na preservação da nossa raiz Ibérica e de promover o turismo pela beleza do espetáculo . é uma oportunidade para divulgar o patrimônio natural, rural, técnico, agropecuário, histórico, étnico e cultural do Município de Guarapuava.
 

Transcrito dos originais por
Sandro Casagrande

 

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