HISTÓRICO.
Durante a dinastia carolíngia, em idos do século VI d.c.,
portanto há quase 1.500 anos, Carlos Magno, de religião
cristã, lutou bravamente contra os sarracenos, de
religião islâmica, impedindo-os de invadir o centro
norte da Europa. O feito foi amplamente divulgado, como
mostra de bravura e lealdade cristã, por trovadores que
viajavam por toda a Europa e ficou sendo conhecido como
a " Batalha de Carlos Magno 12 pares da França ", um
verdadeiro épico cantado em trova, como forma de
incentivar a população cristã contra as investidas dos
exércitos islâmicos que apesar da derrota na batalha de
Carlos Magno, não abandonou as investidas principalmente
ao sul da Europa, vindos da Mauritânia. Conhecidos como
mouros, os muçulmanos da Mauritânia, invadiram, nos idos
do século VII, o sul da Península Ibérica, denominada a
região de Granada, de onde foram expulsos somente em
fins do século XV. Foram quase 800 anos de ocupação
moura por quase toda a Península, o que, inegavelmente,
colaborou para o avanço tecnológico destas nações, uma
vez que os muçulmanos árabes, propagadores do islamismo,
eram mais evoluídos, do ponto de vista tecnológico,
artístico e cultural, do que os cristãos da época. Os
reis que resistiram a este avanço refugiaram-se ao norte
da Península e mantiveram intacta sua cultura, vindo
deles a iniciativa de expulsão da soberania moura na
Península Ibérica. Incorporada ao folclore, durante
séculos, a História de Carlos Magno era atração nas
vozes dos trovadores e, somente em idos do século XIII
em Portugal é que a Rainha Isabel resolveu instituí-la
como uma festividade, aos modos de uma representação
dramática, quase que como um jogo de xadrez afim de
incentivar a instituição cristã e o repúdio aos mouros.
Num grande campo de batalha, onde de um lado, o lado do
poente , 12 cavaleiros cristãos vestidos de azul, a cor
do cristianismo, lutam contra doze cavaleiros mouros
vestidos de vermelho, encastelados no lado do sol
nascente.
CAVALHADAS EM GUARAPUAVA.
Até o momento, não há como
afirmar com precisão, o período em que se realizaram as
primeiras cavalhadas em solo guarapuavano.
Certamente só aconteceram, quando da presença de número
significativo de pessoas aptas a desenvolverem uma
coreografia dramática, ou mesmo os jogos eqüestres , o
predomínio e importância do muar no cotidiano das
fazendas, impediu maior desenvoltura desses espetáculos.
Com o advento do eqüino , principalmente do cavalo
guarapuava é que poderiam ampliar esse tipo de corrida.
Outro ponto desfavorável eram as distâncias entre as
propriedades rurais e a pouca quantidade de pessoas na
pequena Vila.
No censo de 1872 Guarapuava apresentou o número de 8.462
habitantes, quando existem notícias das primeiras
escaramuças.
Os pesquisadores destinguem as cavalhadas sulinas
(dramática) com a nordestina (jogos) daí deduzir a
influencia sulina em nossas cavalhadas pela
dramaticidade envolvendo a apresentação.
As cidades litorâneas do Paraná já apresentavam tal
folclore (1810), fornecendo subsídios para a realização
das mesmas em solo guarapuavano. A parte lúdica ,
poderia Ter vindo com os escravos, como Belmiro de
Miranda que era nascido em Alagoas.
Guarapuava foi sempre uma cidade que primou pela
tradição em todos os setores da comunidade,
lamentavelmente hoje estamos vendo o quase total
desaparecimento das ricas tradições de nossa querida
terra, para os jovens é o significado do progresso, da
evolução, mas para os mais velhos, é o desejo de manter
viva a memória , o passado e recordação dos bons tempos
de uma vida tão diferente, mas tão cheia de paz,
tranqüilidade, união e muita amizade.
Passamos então recordar uma tradição que data de 1870
quando os fazendeiros reunian-se no local onde hoje se
encontra a Capela de são Sebastião, nas proximidades do
aeroporto Tancredo Thomaz Faria , e ali faziam seus
acampamentos para levar a efeito os ensaios para a tão
aguardada a aplaudida Cavalhadas , que eram realizadas
no dia 20 de janeiro perante uma grande assistência ,
que se locomovia até o local para aplaudir os cavaleiros
com suas evoluções magistrais.
Segundo dados esse evento tinha na pessoa de Domingos
Gamalier e outros entusiastas guarapuavanos a sua
efetivação.
Passados alguns anos as Cavalhadas passaram a fazer
parte integrante dos festejos do dia 2 de fevereiro
consagrado a Nossa Senhora de Belém, nossa padroeira.
Assim, o grande acontecimento foi inicialmente levado a
efeito no antigo 7 de setembro, onde hoje se encontra o
Colégio Francisco Carneiro Martins . a seguir foi mudado
o local para a Praça 9 de Dezembro, justamente em frente
a nossa Catedral. Posteriormente tivemos nova mudança de
local desta vez o antigo campo do Guarapuava Esporte
Clube, no ano de 1941 para em seguida nova mudança, no
Parque Lacerda Werneck, em 1988 no antigo Posto de Monta
e por ultimo em 1998 no Parque de Rodeios do C.T.G na
Vila Planalto.
O mais tradicional folclore que os portugueses trouxeram
para Guarapuava foi o das Cavalhadas. Lembra a luta
entre cristãos e mouros na Península Ibérica ( Portugal
e Espanha) durante as Guerras da Reconquista , isto é,
da expulsão dos mouros. Os cavaleiros são em número de
24, trajados a caráter, cada um com seu pajem. Os
cambatentes são coletivos ou em duplas.a luta se inicia
com os diálogos de provocações e a invasão do castelo
cristão pelos mouros, que fazem prisioneira a Princesa
Floripa , no espanhol floripes.
São várias as modalidades das escaramuças, as quais
exigem muita perícia dos cavaleiros e tomam nomes como:
Brasileira ou fila inteira, 4 tornos, Alcacilha de
espada 4 pelotões com fila cortada . nessa parte há um
intervalo, quando acontece o Lamento (canto) da Princesa
. após os Cristãos investem contra o castelo com a
cavalaria e a infantaria. A seguir ocorrem os torneios
das Argolinhas, das Cabeças, a luta dos Dois Corações a
de 4 Cavaleiros, as filas cruzadas, o entrevero
guarapuavano, terminando com a tomada e incêndio do
castelo pelos cristãos. A princesa é libertada e
assinada a rendição do rei mouro, com sua conversão ao
catolicismo romano.
Duas bandas de música animam o espetáculo: a Banda
convencional que aplaude os acertos e a coragem dos
combatentes e a banda Furiosa, com instrumentos
desafinados, latas e panelas , que critica os erros. Nos
intervalos, os " Mascaras " provocam o riso com a s suas
palhaçadas, nunca faltando a triste figura de Dom
Quixote. As cavalhadas do sul do Brasil, Guarapuava,
Palmas, alegrete, Vacaria são as mais bonitas porque,
além do lúdico e do religioso, apresentam também a parte
dramática.
A importância de não deixar morrer esse folclore está na
preservação da nossa raiz Ibérica e de promover o
turismo pela beleza do espetáculo . é uma oportunidade
para divulgar o patrimônio natural, rural, técnico,
agropecuário, histórico, étnico e cultural do Município
de Guarapuava.
Transcrito dos originais por
Sandro Casagrande