Memória

Artistas do Divino

Dezesseis artistas pintam a tradição milenar da Festa do Divino, que nasceu em Portugal, foi levada para o arquipelágo dos Açores e hoje está disseminada em vários países do mundo, com caracetísticas peculiares a cada lugar

JEFERSON LIMA

 

 

 

A Festa do Divino é tão antiga quanto a formação do reino português e da própria língua portuguesa, remotas ao século 13. A origem mais consagrada da festa é aquela proveniente da historiografia popular. Conta a história oral que a comemoração foi instituída em 1296, na cidade portuguesa de Alenquer. Para apaziguar o clima de guerra em que viviam o rei dom Diniz e seu filho, a rainha Isabel teria apelado ao Divino Espírito Santo. Atendida em seu pedido, e em forma de gratidão, a rainha criou a festa para arrecadar donativos para os pobres. Atualmente realizada em alguns países do mundo, a comemoração acontece em vários estados brasileiros e especialmente em Santa Catarina, berço da colonização açoriana no Brasil. Além da apoiar a edição da festa, a Fundação Franklin Cascaes (FFC) promoveu nesse ano uma mostra de artes plásticas com 16 artistas. A maioria são pinturas, mas há também uma instalação, cerâmica, desenho e bordado, em 33 obras em exposição na sede da Fundação. A maioria dos artistas produziu especialmente para a mostra, mas há obras de 1977 a 2002, e algumas fazem parte do acervo da FCC.
Seguindo pela história que foi transmitida de geração a geração, os relatos populares informam que para organizar a festa, a rainha Isabel mandou fazer uma cópia da coroa do reino, colocando no alto uma pomba branca, que simboliza o Divino Espírito Santo, que deveria peregrinar pelo mundo, arrecadando donativos para os pobres. A festa
acontece em Santa Catarina de maio a setembro. Em função dos açorianos terem se estabelecido próximos ao mar, é no litoral onde a comemoração é mais incidente. Na Ilha de Santa Catarina, principal concentração dos colonizadores, são realizadas 14 delas durante o período que segue 50 dias depois da Páscoa, culminando no Domingo de Pentecostes, quando é celebrada a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos.
Segundo a professora Lélia Pereira Nunes, presidente da FFC, o Divino tem antecedentes no século nove, mas teria sido com a rainha Isabel a instituição do ato de coroação de um súdito pobre e com as comemorações litúrgicas. Além da coroa, o rei por três dias é provido também com os outros aparatos, como o cetro e a almofada. Lélia está com um livro concluído sobre a festa e esta semana viajou para o arquipélago de Açores, para finalizar sua pesquisa. No arquipélago, a festa foi introduzida inicialmente na ilha de Santa Maria, a primeira a ser colonizada pelos portugueses, em 1423, e onde foi edificada também a primeira ermida, na vila do Espírito Santo.
Logo a festa foi levada também para as ilhas da Madeira e Açores, que passaram a celebrar a data com características particulares. Segundo avalia Lélia, a festa teria vindo para
o Brasil de algum modo já na época do Descobrimento, com uma vertente mais portuguesa. A celebração teria chegado com força nas duas mais importante entradas de açorianos no Brasil; em 1619, em São Luís do Maranhão, com cerca de mil imigrantes; e entre 1748 e 1756, na Ilha de Santa Catarina, com aproximadamente 6 mil pessoas. A festa é comemorada hoje também no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos, Canadá, na Venezuela, entre outros países.
Em Florianópolis, as principais festas acontecem em Cachoeira do Rio Tavares, Campeche, Canasvieiras, Estreito, Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, São João do Rio Vermelho, Santo Antônio de Lisboa, Pântano do Sul, Trindade e Capela da Irmandade do Divino Espírito Santo, na praça Getúlio Vargas (praça do Bombeiro), na área central da cidade. A irmandade é de 1773 e a capela foi construída em 1909, e antes funcionou num espaço próprio na igreja matriz. No Estado há 49 municípios que celebram a data, com destaque para as festas realizadas em Araraqui, Armação da Piedade, Biguaçu, Blumenau, Camboriú, Enseada do Brito, Garopaba, Governador Celso Ramos, Imaruí, Imbituba, Itajaí, Jaguaruna, Laguna, Mirim, Navegantes, Palhoça, Penha, Porto Belo, São José, Santo Amaro da Imperatriz e Tijucas.

RITUAIS

Os festejos são precedidos por novenas e pela folia do Divino, que inicia logo após a Páscoa com coleta de donativos para a festa. É quando os devotos percorrem a comunidade, de casa em casa, com a Bandeira do Divino, acompanhados por um grupo de foliões, músicos que cantam quadrinhas em louvor ao Divino com versos simples e improvisados, e em agradecimento às ofertas recolhidas.
O festejo dura três dias. Na sexta-feira e no sábado à noite, uma banda acompanhada de populares busca o casal imperador (residência dos festeiros) e a corte imperial para a celebração da missa. Em seguida, acontecem as apresentações folclóricas, musicais, bingos, leilões, folias do Divino, queima de fogos, além da venda de comida, produtos e brinquedos em barraquinhas. No domingo, durante a missa solene em louvor , são coroados o imperador e a imperatriz, normalmente adolescentes que representam os reis de Portugal, dom Diniz e dona Isabel, acompanhados de um cortejo formado por seis ou oito pares de crianças, os pajens e as damas da corte.
Seus trajes são de época e ricamente confeccionados e bordados. O celebrante, ao final da missa, faz a imposição solene da coroa ao imperador, convidado pelo casal festeiro. Terminada a cerimônia, o imperador e a corte são conduzidos ao altar do Império, o local que representa os antigos impérios. Ainda no domingo é feita a escolha do casal imperador do ano seguinte.

SÍMBOLOS

A bandeira do Divino e a coroa são os símbolos principais da festa. Confeccionada em tecido vermelho, a bandeira exibe uma pomba branca bordada ao centro e, na ponta do mastro, carrega uma pombinha branca ou prateada, enfeitada de fitas de várias cores, geralmente doadas como pagamento de promessas. A coroa de prata lavrada é a peça principal de um conjunto formado por um cetro de prata (também encimado por uma pomba) e por uma salva ou bandeja de prata, onde as outras duas peças ficam depositadas.
O significado dos pãezinhos do Espírito Santo está no pagamento de promessas com pão de massa doce ou sovada. Têm o formato de corações, mãos, pernas, pés, corpos inteiros e outras de suas partes para as quais se pediu a graça já alcançada. Oferecidos ao Divino, são vendidos ou leiloados nos dias da Festa. Nos municípios da Gr
ande Florianópolis são embalados em saquinhos, onde são escritos os dons e as qualidades do Espírito Santo, e distribuídos com enorme procura pelos devotos. (colaborou Marcos Cardoso).

O QUÊ: Exposição FLORIANÓPOLIS DO DIVINO - ARTES PLÁSTICAS. ONDE: Espaço Cultural do Forte Santa Bárbara da Fundação Franklin Cascaes. Rua Antônio Luz, 260, Forte Santa Bárbara, Centro, tel.: 324-1415. QUANDO: Até 7 de junho de 2002, de segunda a sexta, das 13 às 19h. QUANTO: Entrada franca.

Artistas

Ademar Melo
Aldo Luz
Décio David
Dircéa Binder
Doval
Helenita Peruzzo
Idésio Leal
Janga
Jone Cezar de Araújo
Maria Celeste Neves
Neri de Andrade
Rodrigo de Haro
Semy Braga
Sônia Furtado
Vera Sabino
Willy Zumblick