Festa do Divino em Santa  Catarina - Brasil

          

A Festa do Divino Espírito Santo é uma tradição religiosa que foi instituída em 1296, na cidade portuguesa de Alenquer. Por causa do clima de guerra entre o rei dom Diniz e seu filho, a rainha Isabel de Aragão – a rainha Santa – clamou ao Divino Espírito Santo que se restabelecesse os tempos de paz. Em gratidão, ela mandou fazer uma cópia da coroa do reino, colocando no alto uma pomba branca (o símbolo do Divino), para sair em peregrinação pelo mundo, arrecadando donativos aos pobres. De maio a setembro, Santa Catarina revive esta que é uma das mais significativas manifestações religiosas trazidas pelos colonizadores açorianos.

           

Oração do Espírito Santo

      

Vinde, Espírito Santo,

enchei os corações dos

Vossos fiéis e acendei neles

o fogo do Vosso amor. 

Enviai o

Vosso Espírito e tudo será criado.

E renovareis a face da terra.

   

(oremos)

   

Deus, que instruístes os

corações dos Vossos fiéis

com a luz do Espírito Santo,

fazei que apreciemos

retamente todas as coisas

segundo o mesmo Espírito

e gozemos sempre da sua

Consolação.

Por Cristo, Senhor nosso.

Amém.

     

O ciclo do Divino começa já na Quaresma com a saída da Bandeira do Divino, que percorre as casas coletando donativos para a festa, que se dá no dia de Pentecostes, 50 dias após a Quarta-feira de Cinzas. A Bandeira é carregada por foliões que pertencem as Irmandades do Divino Espírito Santo. Tais irmandades já existem a pelo menos dois séculos.

É comum as bandeiras amanhecerem nas romarias e, tal qual os Ternos de Reis, os foliões recebem comidas e bebidas dos agraciados com a visita. A festa popular propriamente dita ocorre durante três dias em que há cortejo imperial, missa festiva, quermesses, bailes, apresentações folclóricas e queima de fogos. No último dia são coroados o Imperador e a Imperatriz e eleito o festeiro que coordenará as festividades do ano seguinte. Mais detalhadamente nos tópicos seguintes.

      

Ciclo do Divino Espírito Santo na Ilha de Santa Catarina

     

Na Ilha de Santa Catarina, principal concentração dos colonizadores, são realizadas mais de uma dezena delas durante o período que segue cinqüenta dias depois da Páscoa, culminando no domingo de Pentecostes – quando se celebra a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. 

As maiores delas são as da Armação de Santa Ana do Pântano do Sul, Cachoeira do Rio Tavares, Campeche, Canasvieiras, Estreito (no continente), Lagoa da Conceição, Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão (Ribeirão da Ilha), São João do Rio Vermelho, Santo Antônio de Lisboa, Pântano do Sul, Trindade e da Capela da Irmandade do Divino Espírito Santo, na região central 

(capela da Irmandade do Divino Espírito Santo), sendo a mais antiga, há 227 anos.

De maneira especial vamos nos referir a Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, capital do estado catarinense, e ponto da chegada dos açorianos. Por este motivo temos várias localidades (freguesias) com suas festas do Divino Espírito Santo nos moldes da Ilha Terceira nos Açores.

         

Ciclo do Divino Espírito Santo no Litoral Catarinense

    

Pelo fato dos imigrantes açorianos terem se estabelecido próximo ao mar, o Litoral é a região do Estado onde mais acontece a comemoração. O povo açoriano extremamente católico, trouxe consigo os seus cultos religiosos. Dentre eles, o mais forte é o culto ao Divino Espírito Santo. Este legado secular hoje é seguramente a manifestação mais significativa da cultura popular catarinense. 

A costa litorânea do nosso estado é composta por 43 municípios, com fundamentos na cultura de base açoriana e muitos destes ainda fazem acontecer a festa do Divino Espírito Santo: Araquari, Armação da Piedade, Barra Velha, Biguaçu, Blumenau, Camboriú, Governador Celso Ramos, Imaruí, Imbituba, Itajaí, Jaguaruna, Laguna, Mirim, Navegantes, Palhoça, Penha, Porto Belo, São José (São Miguel), Santo Amaro da Imperatriz, Tijucas, Tubarão, Palhoça (Enseada do Brito/sede do município, Aririú), São Francisco do Sul e Florianópolis. 

Há locais em que as festividades se prolongam até depois do domingo da Trindade. Em cada uma delas, na combinação de rituais religiosos e festejos populares, são adicionadas características próprias, porém os acréscimos não alteram sua essência.

Cada município ou localidade citada acima assumiu características próprias nos festejos populares profano/religiosos do culto ao Divino Espírito Santo, mas estas mudanças, sofridas ao longo dos tempos, não alteraram a essência deste culto, que mantém os mesmos elementos básicos de quando foi instituída a celebração por Izabel de Aragão, em Alenquer.

     

O ciclo do Divino Espírito Santo

   

O ciclo do Divino Espírito Santo apresentava etapas bem definidas:

peditórios, novenas, cantorias e festas; bem como símbolos: bandeira do Divino, coroa, salva, cetro, impérios, festeiros, imperador e imperatriz, corte, cortejo imperial, coroação, pagamento de promessas, pãozinho do Divino, varas, mastro do Divino, juizes de vara e bandas.

        

Peditório

     

Acontecia nos meses que antecediam as festas, iniciando-se no domingo após a Páscoa e se prolongando pelo tempo necessário a visitar roda a comunidade, indistintamente da condição social dos moradores. Normalmente eram duas as bandeiras que seguiam em direções apostas, voltando a se encontrar durante a festa. Era um ritual que passava em todas as casas da localidade pedindo donativos para o "Divino" (entenda-se festa do Divino). Era formado por um grupo de pessoas. Urna delas carregando a bandeira do Divino Espírito Santo, mais três ou quatro que formavam a cantoria e populares (nos finais de semana), que ao ritmo da cantoria, iam rimando versos, pedindo e agradecendo donativos que seriam utilizados para ajudar na realização das festas. O peditório, também chamado de folia do Divino, podemos comparar ao correr da migalha" que ocorre em algumas festas do Divino Espírito Santo nos Açores. Era tradição enfeitar as casas onde a Bandeira do Divino ia passar arrumar uma sala para receber a Folia do Divino e oferecer comida e bebida para os foliões. Citamos algumas quadras dos versos cantados no litoral catarinense,

   

Dê-me licença que entre

Dentro de sua morada

Uma bandeira divina

E a coroa sagrada.

   

O Divino pede esmola

Mas não é por precisão

Pede para experimentar

Os seus devotos que são.

   

Após recebera esmola vem o agradecimento.

    

Ah! Que esmola tão alegre

Deram a Deus criador

Quem vos há de agradecer

é o Divino Salvador

 

Enfeitaste a tua casa

Com folhas de laranjeira

Decerto estavas esperando

Esta sagrada Bandeira

   

Deste uma fita a Bandeira

E uma fita encarnada

Ao senhor que nos dá vida

Nesta hora tão sagrada.

   

O Divino Espírito Santo

É pai da redenção, ai...

Coma bandeira sagrada

Anderjios com oração, aí..,

    

Este sinhô vai embora

E o pai da Divindade, ai...

E aqui está as três pessoas, ai,

E da Santíssima Trindade, ai, ai...

    

(Ambas as quadras foram coletada pelo Professor Doralécio Soares)

        

Novenas

    

Tradicionalmente, a novena antecedia a festa do Divino. Ritual religioso que se Fazia à noite, normalmente aos sábados, na casa ou capela que hasteou a bandeira. A folia e bandeira que percorra as residências fazendo o peditório durante o dia, à noite pousava em alguma casa onde acontecia a novena, rezada toda em latim por um capelão e acompanhada pela cantoria. Após a novena havia foguetório e arremate das doações recolhi­das.

       

Cantorias do Espírito Santo

     

Conhecidas sempre como cantoria ou folias do Divino, acompanhavam as bandeiras durante o peditório. Estavam sempre presentes nas novenas, e tinham corno principal função acompanhar o cortejo imperial e a coroação do imperador. Com seu ritmo e versos, conduzia o cortejo até o altar, fazendo todo o ritual de coroação e o acompanhamento do cortejo até a casa do Divino. Era formado por três a cinco pessoas que tocavam instrumentos como tambor, rabeca, viola e violão. Um deles, o cantador, puxavam os versas e as outros faziam o cora. Funcionava como os mestres de cerimônia do culto ao Divino Espírito Santo, pois dirigiam as funções, cantando o roteiro a ser seguido. O grupo da cantoria do Divino as vezes usava indumentária, mas na maioria das vezes não as usava. Existem ainda alguns grupos, hoje, que cumprem o ritual tradicional.

         

Festa do Divino Espírito Santo

   

Era o ponto alto de todo o ritual profano-religioso, iniciado após o domingo de Pentecostes. A data da ocorrência da festa era em função do tempo que as bandeiras levavam para cumprir a etapa do peditório. Normalmente nos meses de junho/agosto. Congregava e ainda congrega todos os elementos simbólicos do ciclo do Divino, quais sejam.

         

A Bandeira do Divino

   

A bandeira e a coroa do Divino são os símbolos centrais da festa, onde giram todos os rituais. A bandeira ainda conserva os mesmos padrões, confeccionada em tecido vermelho, com uma pomba com asas abertas ou bordada e estampada em branco no centro. Em algumas ainda encontramos ramos bordados nas laterais. Na ponta de seu mastro encontramos uma pomba que pode ser de madeira com as asas fechadas (denominada de bandeira pobre que sai em peregrinação realizando o peditório) ou de prata com as asas abertas que se utiliza nas cerimônias e na cortejo. Esta pomba está sempre ornamentada com fitas e flores. As fitas são sempre renovadas e acrescidas, pois pode-se pagar uma promessa ao Divino colocando uma fita colorida em sua bandeira. O tamanho do comprimento da fita é sempre da altura da pessoa que está pagando a promessa. O número de Bandeiras é variado. Temos municípios, a exemplo de Itajaí, que costuma também levar para as festas uma bandeira do Divino branca que simboliza a paz - Este ritual é feito pelos devotos do Divino.

 

Coroa

 

Em prata lavrada, insígnia principal de tini conjunto Formado por Cetro e Salva. No litoral catarinense varia apenas quanto ao tamanho. Usa-se, ainda hoje, apenas uma coroa, ao contrário dos Açores, onde em algumas cerimônias na casa do Divino, aparecem várias coroas. A coroa é o símbolo principal das festas do Divino Espírito Santo, levada nos cortejos pelo casal de Festeiros sob guarda da corte e autoridades eclesiásticas. Quando chegamos ao ponto mais venerado da festividade, a coroação, som dúvida ela e a figura principal.

     

Cetro

 

Bastão de prata lavrada com unia pomba alçada à ponta, sempre enfeitado por fitas vermelhas e brancas, as cores do Divino, carregado pelo Casal Festeiro (geralmente pelo homem, junto com a coroa sob a salva). Em alguns lugares, quem carregava o cetro era o imperador (festeiro) e sua companheira carregava a coroa sob a salva, talvez urna alusão ao poder que o bastão representava, Em alguns rituais de coroação, a imperatriz ficava com o cetro co imperador com o espadim. Onde ainda se conserva este símbolo, isto acontece.

      

Salva

  

Também de prata, servia para apoio da coroa e do cetro quando do cortejo imperial, ou, na missa, ficava apoiado sobre o altar, às vezes sobre a mesa do padre que conduzia a cerimônia religiosa. No teatro ficava ao lado do casal imperador para sustentara coroa e o cetro.

      

Impérios do Divino Espírito Santo

   

Também conhecidos por teatro (triato) do Divino ou casa do Divino. Era para onde o cortejo imperial se direcionava depois da missa. Ali ficavam expostos para veneração: o casal de imperadores, a corte, bandeiras coroado Divino e as massas (pãozinho) do Divino. Neste momento os fiéis costumavam ajoelhar-se e beijar a pomba encimada no cetro do imperador No litoral catarinense poucos lugares preservam estas construções. Atual-mente, improvisa-se um local no salão de lesta da própria igreja.

       

Festeiros

    

Era o casal que tinha a responsabilidade financeira de fazer acontecer a lesta. Podia ser também chamado de casal Imperador ou imperador, juiz Festeiro ou provedores. Nos Açores são chamados de "Mordomos". Eram eles que constituíam a conte sempre com membros da sua Família, amigos ou vizinhos e organizava o calendário da festa em conjunto com a igreja. Para escolha do casal imperador existiam regras/critérios obedecidos pela comunidade. 1º -  Promessa: o critério das promessas era muito Forte, aceiro e respeitado. Eram pessoas ou casais que faziam promessas para presidirem a festa do Divino Espírito Santo como festeiros ou mordomos. 2º - Aclamação: na falta de mais candidatos o casal era. aclamado durante a missa de coroação. 3º - Sorteio: em alguns municípios a indicação dos novos festeiros era eleita por sorteio. Colocavam-se os nomes dos inscritos (pretendentes) em pedaços de papel lacrados, dentro da salva e retirava-se um. Este sorteio era feito na missa de coroação. Tais hábitos continuam em uso.

      

Imperador e Imperatriz

 

O casal era formado quase sempre por crianças ou adolescentes. normalmente filhos dos Festeiros, que no auge do ritual eram coroados. Sempre bem trajados com indumentárias e acessórios apropriados para o período imperial. Ainda hoje, mantém-se a tradição.

    

Côrte

 

Composta pelo imperador e imperatriz, os pagens e damas da côrte (também crianças ou adolescentes), que vestiam roupas da época, sempre confeccionados em tecidos nobres e bem ornamentados. Também faziam parte da corte, porta bandeiras e membros da irmandade, que levavam as varas com velas, como guardiões do Divino.

   

Cortejo imperial

 

O cortejo imperial era montado obedecendo uma certa ordem que descrevemos a seguir Porta-bandeiras ou Alferes da Bandeira, Damas e Pajens, Imperador e Imperatriz, Casal de Festeiros ou imperadores, sempre levando os símbolos da lesta (coroa, cetro e salva), Autoridades Eclesiásticas, outras autoridades, Cantoria do Divino, Membros da Irmandade, outros Festeiros, Convidados e a Banda Musical. Na segunda-feira da lesta, ou após a coroação. acompanhava o cortejo o casal festeiro do ano seguinte. A corte desfilava de duas a três vezes durante a festa com o mesmo roteiros saia da casa do festeiro em direção à igreja. Após a missa ia para a casa do Divino. Sempre acompanhada dos acordes da Cantoria do Divino ou das bandas musicais. A frente do cortejo vinha sempre o Fogueteiro, pessoa encarregada de anunciar a passagem do cortejo, o que Fazia soltando logos de artifícios (foguetes de varas e rojões).

   

Missa

 

A celebração religiosa era eleita especialmente em louvor ao Divino Espírito Santo, sempre acompanhada das cantorias do Divino.

    

Coroação

 

Era o auge do ritual acontecia ao final da missa em louvor ao Divino Espírito Santo, geralmente no domingo de pentecostes. Após a benção da Coroa, o Celebrante da missa empunha a solene coroa ao imperador (casal de crianças ou adolescentes), sempre comandado pela cantoria e ritmos dos cantadores do Divino. Em algumas localidades quem empunha a coroa para a coroação era o casal festeiro. Depois de coroados, juntamente com a corte imperial, ao ritmo das cantorias do Divino, o casal dirigia-se à Casa do Império do Divino, onde recebia os cumprimentos e adoração.

    

Pagamento de promessas

 

As promessas ao Divino podiam ser pagas apenas colocando fitas no mastro de sua bandeira, oferecendo massas (pão do Divino) para o arremate. Carregando a Bandeira do Divino durante o peditório, prometendo assumir a lesta como casal Festeiro (que é a promessa mais importante) ou simplesmente arrematando os pãezinhos do Divino,

    

Pãozinho do Divino

   

Eram os pães produzidos para o pagamento de promessas ao Divino Espírito Santo e que depois de bentos seriam arrematados pelos fiéis. Estes pães eram feitos de massa doce sovada e moldada nas formas da parte do como que deu origem à promessa. Encontravam-se pães nas Formas da mão, pés, cabeça, como inteiros e outras. A procura pelos pãozinhos do Divino era muito grande, demonstrando a devoção ao Divino Espírito Santo. Pode-se comparar o pãozinho do Divino ao “Alfinim” que se faz na Ilha Terceira nos Açores.

    

Varas

 

Mastros de madeira envernizados, geralmente com suporte para velas na parte superior, que os membros da irmandade usavam para acompanhar o cortejo, em uso em algumas comunidades, como a de Penha.

 

Mastros do Divino

 

Em poucas localidades do litoral catarinense ainda encontramos o Mastro do Divino. Mastro geralmente de madeira roliça o mais alto possível, às vezes pintado, levando a bandeira do Divino Espírito Santo. Esta bandeira, em tamanho menor e quase sempre pintada à mão, era a que ficava ali no período da Festa. O mastro identificava a festa.

    

Juizes da vara (ou senhores da vara, ou varadores)

 

Encontravamos, esta tradição, nos municípios de Jaguaruna, no sul do Estado, e Penha, norte do Estado de Santa Catarina. Eram as pessoas que seguravam as varas revestidas de tecido vermelho ou branco. Estas varas formavam um quadrado que protegia o imperador no cortejo imperial. Nos Açores, sendo chamado de "Casola" ou "Quadro de varas"

    

Banda Musical

   

Uma banda musical sempre acompanhava o cortejo do Divino, entoando seus dobrados e, após o cortejo, fazia uma apresentação ao público na festa.

Manuel da Breda Simões, em Roteiro lexical do culto e festas do Espírito Santo nos Açores, relata que acontece nos Açores o ato da descoroação o que não ocorre no litoral catarinense. Em Santa Catarina acontece o ato da coroação, e em algumas localidades o imperador coroado dirige-se à casa do Divino com a coroa sobre a cabeça. Em outros casos, após a coroação, acontece o ritual de saída da igreja para a Casa do Divino mas a coroa é transportada na mão do casal festeiro. Nos dois casos acima, quando chegam à casa do Divino, onde a côrte vai ficar "exposta” para adoração e reverências do público. a coroa é simplesmente coloca da no altar junto com o cetro e sob a salva.

No litoral de Santa Catarina não encontramos mais o ritual do “Cortejo da Mudança” como se faz em algumas ilhas dos Açores. E montado o altar do Divino Espírito Santo na Casa do Festeiro mas sem este ritual.

Como já comentamos, em Santa Catarina as festas do Divino obedecem ao calendário litúrgico da Igreja Católica que é de cinqüenta dias após a Páscoa, culminando com o domingo de Pentecostes, data em que se celebra a chegada do Espírito Santo. Mas em vários municípios este calendário não funciona, pois, devido à autonomia que se tem para organização da festa, cada comunidade ou irmandade acerta a melhor data no ano para que ela aconteça. Há casos de localidades que juntam o culto ao Divino Espírito Santo à comemoração da data de seus padroeiros locais. Poderia­mos citar Imbituba, Estreito, São João do Rio Vermelho e Santo Antônio de Lisboa. Neste caso, as cerimônias do culto ao Divino são misturadas às do seu padroeiro, numa festa às vezes com maior porte. E é comum ver a coroação de Nossa Senhora ou a imagem do padroeiro percorrendo o Peditório junto com a folia do Divino.

No litoral catarinense não fazem parte da tradição os famosos “bodos” - a distribuição de sopas ou caldos de alcatra ou comidas para os populares de classes mais pobres. Mas é comum em vários locais no domingo da festa ou na segunda feira, a realização de um grande banquete pago pelos festeiros para os que colaboraram na festa. O costume mais tradicional que temos aqui é a distribuição do pãozinho do Divino. A procura pelo pão nos dias de festa é grande, o que reforça a fé e devoção dos catarinenses no Divino Espírito Santo. A distribuição destes pãezinhos e massas de promessas é uma forma de beneficiar as pessoas com os dons ou dádiva da graça da Divino.

Com o passar dos anos e o crescimento das localidades cada comunidade organiza da sua maneira a festa ao Divino Espírito Santo. Um dos elementos que notamos está desaparecendo é o Correr da Bandeira ou Peditório. Nas várias comunidades em que ainda existe a festa, a contribuição é dada em dinheiro e não mais em prendas.

Em algumas comunidades se criou a Bandeira Pobre, que é utilizada nas novenas e no peditório, e a Bandeira Rica, que só é usada nos dias de festa. Existe também alguns municípios que utilizam a Bandeira Branca.

Na organização da festa estão envolvidos a Irmandade (onde existe) o Padre (igreja) e o Casal de Imperadores (festeiros). Estas pessoas atuam motivando os festejos e estimulando a comunidade a participar. O padre sempre procura motivações de natureza religiosa para trazer mais participação popular, enquanto os festeiros criam as condições para que a população devota manifeste seu louvor e fé no Divino, expressa nos rituais, promessas e respeito aos símbolos. Esta manifestação de fé pode ser expressa de diversas maneiras: Beijar a Bandeira e a Pombinha do Divino> cortar as fitas vermelhas (usam como amuleto, ou Fazem um chá medicinal), adquirir massas de promessas, receber o pãozinho do Divino, doar alimentos> prendas e dinheiro ou participar das missas e cortejos do Divino.

Os arredores da capela e o caminho que leva à casa dos festeiros onde o cortejo imperial irá passar é sempre muito enfeitado com bandeirinhas, estandarte.s com símbolos do Divino, lâmpadas e outros. Esta é uma tradição que caracteriza as Festas em Santa Catarina.

Outra tradição que encontramos em todas as festas do Divino Espírito Santo no nosso litoral é a queima de fogos de artifício, que acontece no último dia da festa.

O culto ao Divino Espírito Santo é uma lesta do povo, que a promove com alegria e louvor, urna tradição coletiva que se renova a cada ano e que está na alma dos descendentes açorianos.