Origens da imigração
açoriana
Enquanto no Sul do Brasil o Império Português se defrontava com o
problema de possuir muita terra para pouca gente, nas ilhas dos
Açores a situação era inversa: havia muita gente para pouca terra.
Assim, a decisão da coroa portuguesa de promover a imigração de
açorianos para a região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em
meados do século XVII, representou a solução de dois problemas,
aliviando a pressão populacional nas ilhas e garantindo ao sul um
povoamento mais denso do que o do sistema de sesmarias (uma sesmaria
tinha 10.503 hectares), em que enormes glebas de terras ficavam nas
mãos de poucos proprietários.
A imigração subvencionada de casais açorianos foi feita a partir de
1748 (mais
informações sobre os primórdios dessa imigração).
Calcula-se que, entre 1748 e 1756, entraram no Rio Grande
aproximadamente 2.300 açorianos - o que representava dois terços da
população gaúcha de então. A idéia inicial era utilizá-los para
ocupar a região das
Missões, que pelo Tratado de Madrid (1750) passaria para
Portugal, em troca da Colônia de Sacramento. No entanto, o Tratado
foi anulado, Portugal não entregou Sacramento e nem recebeu as
Missões, e os açorianos ficaram instalados nas margens do rio Jacuí.
Com a invasão espanhola (em que foi ocupada a cidade de
Rio Grande, em 1763), os comandantes militares portugueses
fundaram diversas praças militares ao longo do Jacuí, para garantir
o acesso, por via fluvial, a Rio Pardo, que se tornou, após a
invasão, o posto mais avançado do domínio português. É nessa época
que foram criadas as vilas de Santo Amaro, Triunfo, Taquari e,
finalmente, a própria Rio Pardo. Além dos açorianos - que já se
encontravam na região - foram concentrados na área os "retirantes"
vindos das regiões mais ao sul, como de Rio Grande.
Tendo recebido pequenas datas de terra e residindo em vilas, os
colonos açorianos introduziram no Rio Grande a policultura,
plantando aqueles produtos que lhes garantiam a subsistência e
vendendo os excedentes nas vilas.
Entre os seus cultivos destacou-se, até o início do século XIX, o
trigo. Mas, em uma região de permanentes conflitos, cercados de
grandes propriedades, os colonos açorianos terminaram por se
incorporar ao meio, e se transformaram, aos poucos, em estancieiros.
Essa primeira tentativa de colonização pela pequena propriedade
fracassou e seria preciso esperar quase cem anos para que a idéia
tivesse sucesso. No entanto, os açorianos deixaram algumas marcas na
cultura gaúcha. São tipicamente açorianos os hábitos de se organizar
irmandades que se dedicam à manutenção de uma igreja ou de obras de
caridade.
Aliás, uma das mais antigas irmandades do estado, e uma das poucas
que ainda funciona, é a de Santo Amaro, fundada em 1814.
Alto da Página
Milicianos receberam
terras como pagamento
Dentro da origem portuguesa do Rio Grande, uma outra corrente, além
de lagunenses e açorianos, não pode ser esquecida. Trata-se dos
milicianos que, atraídos pelo soldo e pela perspectiva de receber
terras ao final do período de engajamento, vinham para cá como
membros das tropas portuguesas. Eram, em sua maioria, originários
das capitanias de São Paulo e Minas Gerais, e através das sesmarias
que lhes foram concedidas, ocuparam uma fatia significativa do Rio
Grande.
Para responder à pressão espanhola, que cresceu a partir da invasão
de 1763, foram concedidas, a militares, terras nas regiões mais
ameaçadas. Com isto o povoamento voltou-se para o sul, indo até
Camaquã; para o sudeste (seguindo os vales do Camaquã Mirim e do
Piratini) e para o oeste a partir de São Sepé, pelos vales dos rios
Vacacaí-Cacequi e Santa Bárbara.
É dessa época que data a fundação de várias pequenas vilas, que
serviam de centros administrativos e religiosos de apoio aos
moradores das sesmarias: Pelotas (a partir de 1780 começou seu
povoamento); Encruzilhada (1770); Erval (que surgiu ao redor de um
acampamento militar, em 1791); Caçapava e Canguçu (em 1880).
Esses povoados e as sesmarias que os cercavam, garantiram a presença
portuguesa ao sul do Jacuí. A bacia do Vacacaí também foi ocupada de
1790 (ano da fundação de São Gabriel) a 1794 (quando se fundou São
Sepé). O mesmo aconteceu com a Depressão Central, onde, em 1727,
havia sido estabelecido um acampamento militar que deu origem a
Santa Maria.
Já a região das Missões foi conquistada em 1801, mas permaneceu com
uma densidade de ocupação muito baixa: uma área com cerca de 10 mil
quilômetros quadrados até o rio Ibicuí, foi concedida a apenas 14
donatários - entre os quais, naturalmente, estavam os conquistadores
da região. Também foi através de milicianos que receberam sesmarias
que se ocupou a zona da fronteira, com cidades surgindo a partir de
acampamentos e fortificações. É o caso de Bagé, São Gabriel,
Alegrete e Livramento.
Essas ocupações de milicianos tiveram sucesso onde a colonização de
pequenas propriedades com açorianos não teve. Pois a estância,
comandada por um militar ou ex-militar e razoavelmente
auto-suficiente, tinha condições de resistir aos ataques que
porventura sofresse.
Já a pequena propriedade açoriana estava totalmente exposta, e não
tinha como garantir a defesa do solo. Entretanto, não se pode
minimizar a importância da colonização açoriana. Pois foi deles, dos
milicianos de Minas e São Paulo e dos lagunenses, que se formaria a
corrente luso-brasileira do sangue gaúcho que, mais tarde, se
misturaria a muitas outras.
|