O Divino Espírito Santo (1ª parte)

Carlos de Lima*

A festa do Divino Espírito Santo, celebração religioso-profana, de início praticada pela nobreza e pela gente rica, chegou mais tarde à população mais modesta, que dela se apropriou. Parece ter tido origem numa instituição criada por Oto IV, Duque da Baviera, para socorrer os pobres de seu império, arrasado pela fome, no século XIII, daí espalhando-se pela Europa, para chegar a Portugal em 1296.
Segundo Marcelino Lima (Anais do Município da Horta) [Açores], existiam na Alemanha associações de beneficência sob a invocação do Espírito Santo, destinadas a socorrer os indigentes em ocasiões de penúria. Em França, no ano de 1.160, fundou-se a Ordem do Espírito Santo, que se dedicava ao exercício da caridade para com os pobres e doentes.

Câmara Cascudo chama a atenção para o fato de que as marcas do travestimento imposto pela igreja aos antigos cultos agrários foram por muito tempo perceptíveis: o Mês de Maria veio substituir as festas a Afrodite, quando os portugueses penduravam nas portas das casas as giestas para comemorar o reflorescimento da natureza e a fartura. Desde D. João I, em 1385, comemorava-se o Divino Espírito Santo propositadamente no mês de Maio como um substituto da Maia, festa popular portuguesa celebrada a 1o. de maio, que caiu em desuso no século XIX, por proibição governamental.
Foi a rainha Isabel, a Rainha Santa, canonizada pelo Papa Urbano VIII em 25 de maio de 1625, quem iniciou em Portugal o culto, com a construção da igreja do Espírito Santo, em Alenquer, ainda no século XIII.

De começo nada mais era que um simples bodo, distribuição de esmolas aos pobres, alegria caridosa e não bailarina, na expressão de Câmara Cascudo. Assim, com sentimento de profunda religiosidade por parte de reis, e depois de nobres, tiveram início estas festividades, com a permissão para que se fizesse uma réplica da coroa portuguesa – a Coroa Real do Divino Espírito Santo.


Outros, porém, afirmam ter sido em Coimbra o princípio, e se deu quando D. Diniz (9-10-126 / 7-1-1325) fez sentar no trono real um mendigo e coroou-o, servindo-lhe o próprio rei de condestável e os cavaleiros da corte de pajens e escudeiros, cerimônia presidida pelo Bispo de Coimbra, enquanto era cantado o Veni Creator Spiritus. E ainda Francisco Brandão, em sua Monarquia Lusitana concordando que a rainha Isabel o instituiu, afirma que foi em Cintra e não em Alenquer, o que, afinal de contas, não tem grande importância. Antigos cronistas, como Frei Manuel da Esperança (História Seráfica) e o Bispo D. Fernando Correia de Lacerda, confirmam a origem em Alenquer.

Paulatinamente o costume estendeu-se a todo o território de Portugal, para fixar-se especialmente das ilhas dos Açores, dado o isolamento em que por muito tempo esteve aquela região. Todavia, tendo origem no continente, ainda permanece vivo em Portalegre, Marvão e Nisa, Cardigos e Beira Baixa. 
A pia instituição veio aos Açores trazida pelos capitães-donatários, devotos e crentes da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, os nobres, os navegantes e o povo agrícola e artífice que se estabeleceram nas diversas ilhas. Introduzida pelos primeiros povoadores, em meados do século XV, discute-se se ocorreu inicialmente em Santa Maria, a primeira ilha descoberta e povoada, ou na Terceira, com os primeiros colonos, questão esta, aliás, irrelevante.

Ao que parece, o aparecimento de tais festas verificou-se na ilha de Santa Maria, a primeira povoada, onde se construiu uma ermida sob tal invocação. Em Angra do Heroísmo, no coração mesmo da Ilha Terceira, tem lugar, em 1492, a criação do Império dos Nobres; em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, por motivo do terremoto de 1522, inicia-se o culto, com a exposição das coroas dos nobres sobre estrados forrados com as mais belas colchas, e na ilha de S. Jorge, um violento abalo de terra faz surgir a devoção. 

As festas, como as vemos ainda hoje, datam do século XVII, com D. João IV, fundador da dinastia de Bragança, quando do início da Guerra da Restauração, que libertaria Portugal do jugo espanhol, de 1640 a 1668. Mas quem popularizou o título de imperador foi Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano (24-2-1500 – 21-9-1558), genro de D. Manuel, o Venturoso.
A coroa do Imperador do Divino, tão divulgada nos domínios insulares portugueses e impositivo da autoridade divina simbólica, é a velocidade inicial que irá influir em todos os folguedos brasileiros onde existir personagem coroado. (C. Cascudo).

As festas do Espírito Santo, tradição nos Açores, pouco a pouco foram chegando às camadas populares, com os primitivos povoadores, vindos do continente. Decorrem do Domingo da Pascoela (imediato ao domingo da Páscoa) ao dia de Pentecostes e até ao Domingo da Santíssima Trindade e são formas do cumprimento de promessas para agradecer as graças recebidas; naturalmente diferentes em seus rituais, de um lugar para outro. Nos Açores, caracterizam-se pela existência de um Império e a respectiva Irmandade. O império (Com o desenvolvimento da festa a palavra império passou também a designar a corte do Imperador, isto é, os personagens participantes – imperador, mordomos, etc.) é uma construção semelhante a uma ermida, ostentando na fachada uma espécie de frontão triangular onde está esculpida uma pomba ou coroa, e destinada exclusivamente a louvar o Espírito Santo. Na Ilha Terceira, estes pequenos edifícios alcançam maior brilho com criações decorativas e elaborados esquemas cromáticos. No seu interior, ergue-se o altar onde a coroa, enfeitada com flores, brilha à luz das velas - o símbolo maior da festa juntamente com o cetro. Ao lado do império, fica um outro edifício, a despensa de onde saem cestos de pão de cabeça e cântaros de vinho. Às pessoas respeitáveis e aos forasteiros oferecem-se rosquinhas fofas de pão doce, a massa sovada.

A coroa, toda de prata, é insígnia da realeza do Imperador; possui quatro ou seis braços imperiais e tem como arremate, no topo, uma pomba. O cetro, também de prata, compõe-se de um punho (onde se amarra um grande laço de fita) e uma haste de uns 40 centímetros, aproximadamente, igualmente enfeitado com flores e fitas.

As Irmandades são associações de populares que contribuem para a realização da festa.
A escolha do Imperador é feita com o Tirar o Pelouro (Pelouro – Ant. Bola de cera em que se incluía o voto de cada eleitor.), ou seja, o sorteio a que se procede para a distribuição anual da Coroa pelos irmãos de cada uma das Irmandades. O Imperador, recebida a notícia de sua escolha, começa a preparar-se para a missão a que se obriga por uma semana, logo que receba a coroa e a bandeira, que lhe chegam à noite, à luz de tochas e velas (a mudança), do Império ou de outro irmão, até que, por sua vez, a faça conduzir à casa do novo Imperador. Então providencia os tantos alqueires de trigo para o pão, a carne para os quinhões de esmolas, os apetrechos da cozinha (pratos, copos, talheres, emprestados pelo Império), o contrato dos músicos e as cantadeiras que animarão os bailes, os foguetes que anunciarão o terço e acompanham a folia e a coroação e, finalmente, a distribuição dos convites a parentes, vizinhos e amigos para tomarem parte nas festividades.
A coroa, guardada na casa do Imperador, é, em determinado dia, levada à igreja, acompanhada pelo alferes da bandeira e pelo portador da coroa, dentro de uma cercadura de pessoas que portam varas, que significam os Quatro Evangelistas.

(As varas são insígnias dos mordomos, ou vereadores, e dos convidados ilustres – respectivamente vereadores da coroa e vereadores da bandeira, aqueles mais categorizados do que estes.) Mordomos são os irmãos escolhidos ou eleitos para a festa e pajem da coroa, ou vedor é o que conduz a coroa, coloca-a, ou tira-a, da cabeça do Imperador e lhe dá o cetro a beijar.

Após a missa solene, no domingo, procede-se à coroação do Imperador (normalmente uma criança) e nova procissão leva todos à sede do Império, onde se fará a distribuição da comida, enriquecida, adornada e alterada em termos de forma e tamanho: grandes pães ou roscas, vésperas (Vésperas – Bolos marcados com o símbolo do Espírito Santo: coroa, pomba, flor, etc.) etc.

Nesta refeição comunitária são servidas as sopas do Divino Espírito Santo, o que implica no sacrifício de um bovino para sua confecção: o pão de trigo é colocado em terrinas onde é despejado o caldo da carne cozida em caldeirão de ferro, temperado com hortelã e canela. De acompanhamento podem ser servidos legumes. Em alguns lugares há um segundo prato que consiste em carne assada acompanhada de massa sovada. Como sobremesa também a massa sovada, o arroz doce, e, em São Jorge, os coscorões.( Coscorões – Filhós doces). A refeição é regada com vinho de cheiro. O almoço oferecido aos Irmãos, suas famílias e à população, preparado pela mestra da função, e oferecido de toalha ao pescoço pelas moças, revela o sentimento da solidariedade, da caridade e da esperança.
A par do caráter religioso da celebração há a parte profana, antigamente a cargo dos foliões, que cantavam loas ao Espírito Santo ao som de viola, pandeiro, rabeca, tambor e ferrinhos (Ferrinho – triângulo ), conduzindo uma grande bandeira de tecido vermelho, tendo bordada uma pomba de asas abertas, hoje substituídos pelas bandas filarmônicas.

Os foliões tiveram origem nas festas pagãs. Na Grécia antiga, nas bufonias, celebrações em honra de Júpiter, nas quais se sacrificavam bois, distribuindo-se a carne pelos necessitados, os bufonos eram os matadores dos bois. Tal designação veio através dos tempos a resultar em português na palavra bufão, significando jogral, bobo, folião. Assim, os foliões do Divino, nos Açores, em número variável de uma ilha para outra, eram pessoas que se divertiam (e divertiam os demais) usando indumentária própria, a mais freqüente e característica, uma opa de chita estampada e uma mitra idêntica, na cabeça.

Outro aspecto interessante é, também, a competição acirrada dos partidos, todos empenhados em fazer coroação de estalo: terroristas versus saiotes, animados por altercações e briguinhas quizilentas (que) não só enchiam os cavacos de tenda, sociedades de recreio, adro e barbearia, como adornavam o falatório das mulheres, disparado de janela a janela e barrelado nas pias do chafariz , conforme a deliciosa descrição da festa, feita por Àlamo Oliveira. 

(Terroristas, os rebeldes, liderados pelo ex-presidente da Junta, Antônio Cana-Verde, tidos como excomungados; Saiotes, os obedientes ao padre, almas de eleição.Tudo por haver o bispo proibido bailes e jogos e obrigado as comissões do Império a prestar-lhe contas do dinheiro arrecadado, dos quais tirar-se-ia uma percentagem para os fundos diocesanos.  – O Espírito Santo não é de igreja! É da gente! Dizia o Cana-Verde arrebanhando adeptos. Do enfrentamento nas ruas resultou terem os terroristas inutilizadas as fardas dos músicos, os instrumentos amassados; no dia seguinte tomaram vingança os saiotes destroçando os belos vestidos de tule e lantejoulas com que se preparavam as meninas para rivalizar com o luxo das fardas brancas de botões dourados da banda dos adversários).

O Ti Francisco Florindo diz que, hoje, as festas do Espírito Santo, na freguesia, já não têm sabor. Falta-lhes o sal dos partidos e a pimenta das brigas.

Festa da nobreza, o povo dela apropriou-se e foi-lhe produzindo modificações, existindo hoje variantes de ilha para ilha e até de freguesia para freguesia. As diferenças estendem-se também quanto aos instrumentos: em S. Miguel usam rabeca, viola de arame e sistros (chocalhos); noutras localidades, tambor e ferrinhos; em Santa Maria, Flores e Corvo, testos, que são uma espécie de pratos metálicos.

Cada folia tem uma bandeira com a pomba do Divino e um dos que trazem pandeiro puxa a cantiga, quase sempre improvisada, que os demais repetem. Tais cantigas costumam ser não só de devoção religiosa como de jocosa crítica social.

Na ilha do Faial, em 24 de abril de 1672, por ter o povo sobrevivido a uma violenta erupção vulcânica, nasceu o Império dos Nobres, que tomou a si a obrigação de distribuir esmolas todos os anos enquanto o mundo durar; desde então a Câmara promove a procissão que, saindo da igreja Matriz, recolhe-se à igreja da Misericórdia, onde se canta a missa com sermão a que assiste a edilidade, fazendo-se gasto e despesa à custa dela, em ação de graças.

Antigamente fazia-se uma arramada no meio da rua (posteriormente substituída pelo Império, do qual já tratamos) e no teatro (tablado abrigado do sol por uma cobertura de ramagens) expunha-se a coroa, oferecendo o Imperador um jantar aos Irmãos. Debaixo da ramada fazia-se a distribuição das esmolas.

Mas os excessos que os ricos introduziram na festividade tornou-a inacessível aos remediados, que não podiam imitá-los, esquivando-se à obrigação de imperadores. Estabeleceu-se, então, que o imperador seria obrigado a contribuir com tudo o que fosse necessário para o serviço de sua mesa no teatro, mas tal se fundasse em um só serviço de doce, e no que respeita às esmolas que o dito imperador deve dar aos pobres, de pão não será menos de um moio de trigo, carne proporcionada ao dito pão repartido em esmolas, e não terá obrigação de contribuir com mais cousa alguma.

Em 1597 mandou El-Rei acabar com as festas de bodo, pois diversos imperadores gastam com elas o que não têm, sujeita a desobediência à pena de multa.

No desempenho das várias funções relacionadas ao desenvolvimento da festa serviam como copeiro, trinchante (ou viador) e porta-estandarte, pessoas gradas como o capitão-da-guarda e oficiais da milícia, que conduziam as lanternas e pegavam as varas do pálio. Algumas festas deixaram registro na história como as promovidas pelo cônsul francês Sérgio Pereira Ribeiro, em 1812; a do morgado Jorge da Cunha, em 1822 e 1831; da baronesa de Alagoa, D. Francisca de Paula. Nesta, feita em cumprimento de uma promessa, quando da prisão política de seu marido, coroou seu filho José, servindo de pajem o outro filho, Manuel. Vestiram-se doze pobres; o bodo foi abundantíssimo e pejada de iguarias a mesa do teatro. A residência do morgado, que era ali mesmo, esteve engalanada de ricas colgaduras e de bandeiras. Houve um baile esplêndido, que ficou memorável e também iluminação em toda a rua da Misericórdia. (Anais do município da Horta, Marcelino Lima).

Outra vez, porém, o Império esteve a extinguir-se por não haver quem quisesse ser Imperador, mesmo porque o jacobinismo de então achava que o progresso implicava na libertação das peias religiosas. Em 1825 a Câmara determinou que não se fizesse despesa com império e foliões, o dinheiro arrecadado fosse todo distribuído aos pobres, ao fim da missa. Mas, doze anos depois, já a Câmara devolvia a promoção da festa ao Império de Reconhecimento e Beneficência.

A República, toda entufada de critério, atirando vassouradas a velharias e praxes, e o Município, seu digno representante, repudiaram afanosamente o compromisso dos antepassados, feito numa hora sagrada de penúria e de angústia, expressão da mais pura beleza moral – a Caridade. (...) Presentemente é de novo a Câmara, regressada ao bom senso, que se incumbe da festividade religiosa e serviços do império, contribuindo de mãos dadas com alguns particulares para as despesas do bodo. Normalmente distribuem-se 800 a 1.000 esmolas.

Mas de significação em significação, o Império dos Nobres, a não ser o pão e a carne que dá, já pouco, muito pouco representa do que foi no início.

No Domingo de Pentecostes – o primeiro Domingo do Espírito Santo, depois que a coroa e o cetro são impostos a uma criança, ou ao imperador, é distribuído pão e vinho a toda gente participante. Esta partilha em lembrança de que todos são iguais perante Deus é também o cumprimento de uma promessa, promessa que ao invés de sacrifício é de alegria. O próprio Imperador, ao contrário dos habituais poderes terrenos, recebe por um dia, não o direito de ter benesses, mas o formidável poder de dar a todos.

Festejos como estes e irmandades como estas existiram na Europa Medieval, nomeadamente na Itália, França e Espanha. Em Portugal foi a própria realeza a apoiar os festejos e as esmolas dadas. Mas, se até mesmo nos inícios do século XIX há ocorrência de festas em diversos pontos do país, estas se desvaneceram a ponto de hoje se pensar que são caracteristicamente açorianas e nada mais.

Um estandarte abre o cortejo da coroação empunhado pelo alferes; o pajem conduz a Coroa numa salva de prata, ladeado por quatro vereadores que sustêm as varas ornadas com flores artificiais. Tais emblemas conservam-se cada uma das sete semanas em casa de um imperador para serem expostos no domingo e na segunda-feira do bodo, no império ou teatro. A sexta-feira é chamada dia do bezerro; no sábado faz-se a distribuição das esmolas e o domingo é o domingo da coroação. No terreiro, os lavradores reúnem seus carros de bois, cobertos de sebes de toldo e moças distribuem os serviços de alfenim, de espécies e de limões.

Receber o Espírito Santo em casa é uma honra e uma alegria. Da casa sai um grupo de moças e senhoras ao encontro do cortejo, sobre o qual lançam pétalas de flores. Ao meio da sala está armado um trono com sanefas, onde ficarão expostas as insígnias – a coroa e o cetro. Durante sete dias reza-se o terço, seguido de um serão de descantes e folguedos.

Na sexta-feira, chamado dia do bezerro, sacrifica-se um boi, que chega enfeitado de fitas e flores, em cumprimento de promessa, recebido com a cantoria do Pezinho (Pezinho – Canto e dança do folclore português ) pelos tocadores de viola e os afamados repentistas – a Folia dos Bezerros. À porta do imperador obriga-se o touro a ajoelhar-se para ser tocado na testa com o cetro, depois do que é sacrificado e a carne distribuída em esmolas de quilo ou meio-quilo, dispostas em pratos ao lado de pães de cabeça, com uma flor espetada, em cavaletes atoalhados em frente da porta do imperador, na tarde de sábado. Os contemplados são os pobres do lugar.

No domingo, depois da missa, realiza-se a coroação, e nas cidades o pároco tem que esperar dois ou mais cortejos antes de subir ao altar. Vem à porta do templo para recebê-los e aspergi-los. Coroadas as crianças designadas pelos imperadores ao som do Veni Creator, o padre acompanha-os de novo até o adro, entoando o Magnificat. 

Findas as festas, reorganiza-se o cortejo, o Imperador coroado à frente, de volta para casa, onde se processa a descoroação, seguida do jantar e, pois, a mudança, de que já falamos, isto é, a entrega das insígnias ao próximo imperador.

À porta do Império procede-se o leilão das promessas (galinhas, pombos, coelhos, bezerros, etc.) cujo produto reveste em favor da festa do bodo, mas onde também aparecem ex-votos (braço, perna, cabeça, etc.) feitos de alfenim e correspondentes às partes afetadas pelas doenças, e procede-se à extração do pelouro. É o fim da festa e o recomeço dela.

O Espírito Santo continua a ser a mais intensa e castiça afirmação comunitária da existência nas Ilhas dos Açores. Sob o ponto de vista exterior verificam-se as procissões, as danças, os banquetes; quanto ao religioso, as penitências, obras de caridade (os petitórios, as esmolas) refletem a fé robusta das gentes, a vivência espiritual das orações.

Estas são, em traços gerais, as comemorações açoreanas ao Paráclito, descrição baseada nos textos do Dr. Francisco dos Reis Maduro Dias, entre outros.

* Pesquisador da cultura popular maranhense