Vitorino Nemésio
Vitorino
Nemésio Mendes Pinheiro da
Silva, filho de Vitorino Gomes
da Silva e Maria da Glória
Mendes Pinheiro, nasceu na Praia
da Vitória, ilha Terceira, em
1901.
A sua vida não lhe correu bem em
termos de sucesso escolar, pois
passou por vários problemas
estudantis, tal como a expulsão
do Liceu de Angra, a reprovação
do 5º ano que o levou a
sentir-se incompreendido pelos
professores. Do período do Liceu
de Angra, Nemésio apenas guardou
boas recordações de Manuel
António Ferreira Deusdado,
professor de história, que o
introduziu na vida das letras.
Com 16 anos de idade, Vitorino
Nemésio, desembarcou pela
primeira vez na cidade da Horta
para se apresentar a exames,
como aluno externo do Liceu
Nacional da Horta. Nemésio
acabou por concluir o Curso
Geral dos Liceus, no dia 16 de
Julho de 1918 com a qualificação
de “dez valores”. A sua estadia
na cidade da Horta foi desde
Maio a Agosto de 1918. A 13 de
Agosto o jornal “O Telégrafo”
dava notícia de que Nemésio,
apesar de ser um “fedelho”, um
ano antes de chegar à Horta,
havia enviado um exemplar de
“Canto Matinal”, seu primeiro
livro de poesia (publicado em
1916), ao director de “O
Telégrafo”, Manuel Emídio.
Apesar de tenra idade, Nemésio
chega à Horta já imbuído de
alguns ideais republicanos, pois
em Angra do Heroísmo já havia
participado em reuniões
literárias, republicanas e
anarco-sindicalistas, tendo sido
influenciado pelo seu amigo
Jaime Brasil, cinco anos mais
velho (primeiro mentor
intelectual que o marcou para
sempre) e por outras pessoas tal
como Luís da Silva Ribeiro,
advogado, e Gervásio Lima,
escritor e bibliotecário.
Em 1918, em pleno final da I
Guerra Mundial, a Horta possuía
um comércio marítimo intenso e
uma impressionante animação
nocturna, a cidade era um porto
de escala obrigatória, local de
reabastecimento de frotas e de
repouso da marinhagem. Na Horta
estavam instaladas as companhias
dos Cabos Telegráficos
Submarinos, que convertiam a
cidade num “nó de comunicações”
mundiais, ou seja, a Horta
possuía um ambiente cosmopolita,
que contribuiu, decisivamente,
para que ele viesse, mais tarde
a escrever uma obra mítica que
dá pelo nome de Mau Tempo no
Canal, trabalhada desde 1939 e
publicada em 1944, cuja acção
decorre nas ilhas Faial, Pico,
S. Jorge e Terceira, sendo que o
núcleo da intriga se desenvolve
na Horta. Este romance evoca um
período (1917-1919) que coincide
em parte com a sua permanência
na ilha do Faial e nele aparecem
pessoas tais como: o Dr. José
Machado de Serpa, senador da
República e estudioso; o Pe.
Nunes da Rosa, contista e
professor do Liceu da Horta;
Osório Goulart, poeta.
Em 1919, inicia o serviço
militar, como voluntário, em
infantaria, o que lhe
proporcionou a primeira viagem
ao continente. Concluiu o liceu
em Coimbra (1921) e inscreve-se
na Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa. Mais
tarde, Nemésio troca o curso em
que se tinha matriculado, pelo
de Filologia Românica, da
Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Na sua
primeira viagem que faz a
Espanha com Orfeão Académico, em
1923, conhecerá Miguel Unamuno
(escritor e filósofo espanhol
(1864-1936), intelectual
republicano, foi o teórico do
humanismo revolucionário
antifranquista) com quem trocará
correspondência anos mais tarde.
A 12 de Fevereiro de 1926, casa
em Coimbra com Gabriela
Monjardino de Azevedo Gomes, de
quem teve quatro filhos:
Georgina (Novembro de 1926),
Jorge (Abril de 1929), Manuel
(Julho de 1930) e Ana Paula
(final de 1931).
Foi em 1930 que Vitorino Nemésio
se transfere para a Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa
onde, no ano seguinte, conclui o
curso de Filologia Românica, com
elevadas classificações,
começando desde logo a leccionar
literatura italiana. É a partir
de 1931 que Vitorino Nemésio dá
inicio à carreira académica na
Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, onde tal
como atrás se afirmou,
leccionará literatura italiana e
mais tarde literatura espanhola.
Em 1934 doutorou-se em Letras
pela Universidade de Lisboa com
a tese “A Mocidade de Herculano
até à Volta do Exílio”.
Entre 1937 e 1939 lecciona na
Universidade Livre de Bruxelas e
regressando novamente ao ensino
na Faculdade de Letras de
Lisboa. Em 1958 iremos
encontrá-lo a leccionar no
Brasil. A 12 de Setembro de 1971
profere a sua última lição na
Faculdade de Letras de Lisboa,
onde ensinara quase 40 anos.
Foi autor e apresentador do
programa televisivo “Se bem me
lembro”, que muito contribuiu
para popularizar a sua figura e
dirigiu ainda o jornal “O Dia”
entre 11 de Dezembro de 1975 a
25 de Outubro de 1976.
Vitorino Nemésio foi um dos
grandes escritores portugueses
do séc. XX, tendo recebido em
1965, o Prémio Nacional da
Literatura e, em 1974, o Prémio
Montaigne.
Faleceu a 20 de Fevereiro de
1978, em Lisboa, no Hospital da
CUF, tendo sido sepultado em
Coimbra. Pouco antes de morrer,
Nemésio pediu ao filho para ser
sepultado no cemitério de Santo
António dos Olivais em Coimbra.
Mas pediu mais: que os sinos
tocassem o Aleluia em vez do
dobre a finados. O seu pedido
foi respeitado.
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