“Vamos às Sopas do Espírito Santo !!!”

 

 
Era esta, meus queridos e estimados leitores, a expressão que saía dos lábios corvinos neste fim-de-semana de Pentecostes.
A Ilha vestiu-se de festa e os rostos de alegria, enquanto se arregaçavam as mangas para ajudar na confecção desta refeição comunitária, ícone da solidariedade e da comunhão fraterna tão próprias das vivências corvinas e do culto do Espírito Santo.
Os festejos em honra do Divino tiveram o seu início na noite do Domingo da Ascensão, 20 de Maio: as coroas e as bandeiras do Espírito Santo regressaram solenemente à Sua Casa. Aí uma pequena multidão reuniu-se para a oração do Terço e, nos outros dias da Semana do Bodo, para a celebração da Eucaristia.
A Irmandade e os Mordomos esmeraram-se em pintar e decorar o Império para que esta semana nos ajudasse a evocar as nossas mais saudáveis memórias e valores e, também, invocar a graça e misericórdia do Espírito do Senhor.
Na quarta-feira, 23 de Maio, começavam os mais árduos trabalhos para que a festa: os homens da Comissão das Festas tinham a seu cuidado o abate da vaca para as sopas, enquanto as senhoras se dirigiam para a padaria municipal para preparar e cozer o pão e a massa sovada. Os dias seguintes foram marcados por uma mistura de trabalho e convívio; sacrifício e espírito de entre ajuda – era necessário unir esforços para levar por diante o empreendimento de preparar uma gostosa refeição, a qual seria oferecida a todos os presentes: corvinos e visitantes, mais novos ou mais amadurecidos pela arte de viver; mais cultos na ciência dos homens ou mais simples na experiência da vida – era importante trabalhar, porque TODOS se iam sentar à mesma mesa partilhando a carne, o pão e o vinho em honra do Espírito Santo.
Mas o ponto alto das celebrações teve lugar no Domingo de Pentecostes – pelas 11h 30 organizou-se a Procissão do Divino Espírito Santo – os símbolos do Paráclito foram transportados pelas crianças e jovens do Corvo, devidamente vestidas de branco. A nossa Filarmónica presenteou-nos com a sua presença e com a execução de belíssimas peças musicais; A Comissão de Festa e os Mordomos da Irmandade também marcaram especial presença – eles que tanto trabalharam para que este fosse um grande Dia, agora marcam especial presença nesta homenagem ao Espírito do Senhor.
O solene Cortejo dirigiu-se para a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Milagres onde foi celebrada a Missa da solenidade de Pentecostes – durante a procissão do ofertório foram levados ao altar os pratos gastronómicos que iriam ser servidos no almoço das Sopas. Esta foi uma forma simples de reunir num único louvor ao Espírito do Ressuscitado a liturgia da Igreja e a refeição fraterna.
Terminada a Eucaristia, todos nos dirigimos para o ginásio da EBI Mouzinho da Silveira, onde foram servidas as tão afamadas sopas do Espírito Santo; a ementa obedecia à mais genuína tradição: sopas acompanhadas com carne cozida, carne assada com batata e arroz doce, tudo sempre bem regado com o saboroso vinho de cheiro que veio da Ilha do Pico.
No final dos festejos era visível a alegria e a boa disposição dos 250 convivas – “estava tudo muito saboroso! Eu nunca falto às sopas do Espírito Santo”. Eram estas as espontâneas expressões que saíam dos lábios agradecidos de muitos daqueles que participaram nas mais populares festas que se fazem no Corvo e nos Açores.
As celebrações em honra do Espírito Santo prolongam-se nesta 2ª Feira da Pombinha, Dia da Região Autónoma dos Açores, com uma Missa Campal em memória dos Mordomos e Irmãos falecidos da Irmandade do Divino Espírito Santo do Corvo. Esta solene Eucaristia será celebrada no mítico Largo do Outeiro e contará com a presença da Comissão da Festa e dos Mordomos, uma vez que estes últimos serão coroados no fim da celebração.
Esta Missa assume ainda uma particular importância para a vida da Comunidade, não só porque quer ser uma singela celebração do Dia dos Açores, mas porque contará com a presença das nossas crianças e adolescentes, aos quais será oferecida uma típica brindeira.
Creio ser de vital importância a educação das novas gerações nos valores e nas atitudes que definem a nossa identidade e nos ajudam a viver o dia-a-dia. É missão da Escola, da Irmandade e da sociedade civil comunicar aos mais novos o culto do Espírito Santo, seja como caminho de vida espiritual seja ainda como escola de solidariedade e de partilha . . .


Pe. Alexandre Medeiros
Pároco do Corvo