Festa do Divino
Espírito Santo
Por: Adriano Carvalho Sousa
Publicado em: 15/04/2006
INTRODUÇÃO
Muitas de no as mais expressivas
manifestações folclóricas possuem
origens em terras ibéricas, sendo
depois, no Brasil, transformadas pelo
povo. Foi o que aconteceu com a Festa do
Divino Espírito Santo, que, segundo
Câmara Cascudo, embora sua inspiração
tenha aportado junto com os portugueses
e sua devoção ao Divino Espírito Santo
no século XVI e tenha buscado outra
fonte de inspiração também em Portugal,
no século imediatamente posterior, nas
festas ocorridas quando da implantação
do cerimonial palaciano de Dom João IV
(primeiro Bragança e primeiro monarca de
Portugal a ser tratado por Vossa
Majestade), é uma festa em muitos de
seus pormenores made in Brazil, por ter
sido construída pelos negros tomando
como referência elementos da cultura
européia. Como exemplo, a própria noção
de Imperador ou de coroa de rei, "não
conhecida no continente negro, sudanês
ou banto" antes da presença continental
do português. Segundo o mesmo
folclorista potiguar, foi a imagem do
rei coroado de Aviz a fonte de
inspiração para a imitação dos escravos
africanos*1.
De forma mais precisa, Carlos de Lima
atribui a origem da devoção à construção
da Igreja do Espírito Santo,
estabelecida pela Rainha Santa, Isabel,
no século XIII em Alenquer,
estabelecendo-se no século XVI no Rio de
Janeiro, São Paulo (Irmãos da Canoa),
Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina,
Maranhão e Goiás*2.
Em Portugal, desde a construção da
Igreja até o “derradeiro Borgonha”, era
um simples momento para dar esmolas aos
pobres, manifestação de caridade e não
de festa. Continuando nas prováveis
origens da inspiração lusa, o título de
Imperador é popularizado na península
por Carlos V, genro de Dom Manuel, o
Venturoso de Portugal.
A partir daí, teria sido a Festa do
Divino, com Imperador, mordomos, damas,
açafatas, guardas, guerreiros, pajens,
música e, antes disso, os cortejos que
agenciavam ou complementavam os
recursos, um “orgulho reinol” que
conquistou o negro escravo e, a partir
da Coroa do Divino Imperador, teriam
sido originados todos os outros
folguedos brasileiros que envolvem um
personagem coroado: Reisados, Congos,
Congadas e Congados, Coroação de Reis
dos Congos, Maracatu, todos
influenciados, em sua indumentária e no
uso da coroa, pelo Divino. *3
UMA FESTA GENERALIZADA EM TODO MARANHÃO
Existem festas do Divino espalhadas por
todo o Maranhão, podendo ser
classificadas em pelo menos três formas
mais gerais: a famosa Festa do Divino de
Alcântara; as Festas do Divino em
terreiros de religiões afro-brasileiras
e as festas de casas particulares
realizadas por pagamento de promessa,
devoção ou tradição de família em São
Luís; e as demais festas do interior do
Estado, seja por pagamento de promessa e
devoção a algum santo, ou tradição de
família, seja por festa de terreiro ou
ainda nos moldes da festa realizada em
Alcântara. Nessas três formas mais
gerais, temos cerca de 150 festas do
Divino cadastradas no Centro de Cultura
Popular Domingos Vieira Filho, o que
torna a manifestação algo celebrado de
forma intensa durante todo o ano no
Maranhão. Isso se dá porque a festa pode
acontecer em qualquer data do
calendário, de acordo com o dia do santo
que é cultuado, havendo festas nos meses
de janeiro, março, abril, maio, junho,
julho, agosto, setembro, outubro,
novembro e dezembro. Cidades
circunvizinhas a São Luís e Alcântara,
como Paço do Lumiar, São José de
Ribamar, Rosário e Santa Rita recebem
influências dos Divinos festejados
naquelas duas cidades.
COMO SE DÁ A FESTA EM SÃO LUÍS
Em São Luis, a Festa do Divino está
incluída no rol dos rituais realizados
pelos adeptos de religiões
afro-brasileiras, mais especificamente,
pelas casas de tambor de mina. Quando
ocorre em terreiros, essa festa obedece
ao calendário de festas de cada um
deles, sendo vinculada a festejos de
santos da igreja católica como Santana,
Santa Bárbara, São Benedito e Cosme e
Damião. Temos várias festas famosas,
como a da Casa das Minas; a do Terreiro
da Fé em Deus, de D. Elzita; e a do
terreiro de Jorge Itaci, dentre outras.
A festa ocorre com muita pompa durante
vários dias e é encarada como uma
obrigação, acompanhada de outras
comemorações em homenagem a alguma
entidade ou no aniversário da casa, em
geral, no período da maior festa do
terreiro. Quando é obrigação a algum
vodum em terreiros de mina de São Luís,
significa que a entidade tem devoção
pelo Divino Espírito Santo e é ele quem
pede que se organize a festa em sua
homenagem. Geralmente, ocorre nos
terreiros de Mina uma vez por ano.
São festas que acontecem durante o ano
inteiro, espalhadas pelos diversos
terreiros, em geral, no período que
compreende o Domingo de Pentecostes até
janeiro do ano seguinte. Tem-se noticias
da existência dessa manifestação em
terreiros de mina desde o século XIX e
desperta a curiosidade de pessoas de
fora do estado pelo fato de somente em
São Luís caracterizar-se como uma festa
afro-brasileira enquanto em outros
lugares, inclusive no Maranhão, a
exemplo de Alcântara, constituir-se em
uma festa do catolicismo popular. Talvez
isso se dê pelo sincretismo ser uma das
marcas mais fortes do tambor de mina.
Entre os principais componentes que, de
modo geral, poderíamos encontrar nessas
festas de terreiros, está a abertura e o
fechamento da tribuna marcando o inicio
e o fim da festa, respectivamente; a
busca, o levantamento e a derrubada do
mastro; toque de caixas pelas caixeiras
durante os dias de festa; composição do
Império por crianças e/ou adoelscentes e
uso, por elas, de roupas especiais;
bandeiras carregadas por bandeireiras;
imponentes mesas de doces com enfeites e
lembranças; cortejo com banda de música;
fogos; saudações ao mastro e ao império,
ladainhas e missa no dia da festa,
coletas de esmolas ou jóias entre os
participantes; realização de banquete
festivo; pomba; cânticos lentos e
ritmados das caixeiras; ritualismo
minucioso; padrinhos e madrinhas.
Há casas que utilizam bailes com
recursos de radiolas e, no término da
festa, vários dias de toques de tambor
de mina no terreiro. Há elementos que
variam de acordo com as casas, como, por
exemplo, e como já dissemos, a época da
realização e também a inclusão de outros
elementos como roubo do império, ou a
distribuição de esmolas, as cores
predominantes na festa, a decoração e
serramento do mastro com dança de
carimbó e outros.
Ao contrário de outras religiões
afro-brasileiras, o tambor de mina não
socializa com a sociedade abrangente
seus rituais de iniciação, ou outros
rituais. Nesse sentido, festas como a do
Divino são bastante apreciadas como
alternativa de socialização das casas
com o restante da sociedade, por atrair
um grande número de pessoas, dentre
elas, crianças.
Internamente, a festa do Divino serve
como uma espécie de oráculo para prever
acontecimentos bons ou ruins que irão
acontecer ao longo do ano na comunidade
religiosa que a promove. Nela, podemos
perceber discretamente a ocorrência do
transe por parte de alguns, o que
evidencia ainda mais o seu caráter de
obrigação religiosa a uma entidade
importante.
As Festas do Divino da Casa das Minas e
da Casa de Nagô têm recebido, nos
últimos anos, apoio do Governo do
Estado, através da Gerência de Estado da
Cultura/Centro de Cultura Popular
Domingos Vieira Filho no que diz
respeito, sobretudo, à divulgação.
UM MUNDO DE CORTEJOS E FESTANÇAS: O
DIVINO DE ALCÂNTARA
Em Alcântara a festa é realizada
eminentemente pelos católicos, marcada
por rituais na Igreja de Nossa Senhora
do Carmo, construída em 1665, logo, no
século XVII, e restaurada já no século
XX pelo Ministério da Cultura. Antes
disso, esses rituais aconteciam na
Igreja do Rosário dos Pretos, no bairro
Caravela. É considerada a maior festa do
Divino realizada no Maranhão, por
constituir um ciclo que dura o ano
inteiro, iniciando-se no Domingo de
Pentecostes, quando ocorre o ritual da
leitura do "Pelouro" e terminando no
Domingo de Pentecostes do outro ano no
mesmo ritual de leitura do Pelouro da
festa seguinte. Trata-se de um ritual em
que, terminada a festa com seus comes e
bebes e inúmeros cortejos e procissões,
o pároco realiza a leitura dos nomes dos
responsáveis pela festa do próximo ano,
após o que os novos incumbidos começam a
trabalhar para realizá-la. *4
Há uma versão de que a Festa de
Alcântara teria sido originada quando da
frustrada visita de Dom Pedro II à
cidade, ocasião em que os negros se
reuniram, lavaram um cortejo à Igreja
para coroar um Imperador e assim
acabaram inventando a festa. Fato pouco
provável historicamente por ser a festa
uma herança miscigenada de portugueses e
negros, talvez já existente em Alcântara
antes da tal malograda visita. Parece um
tanto simplista afirmar que foi criada a
partir desse episódio, tendo sido suas
inspirações trazidas de Portugal e,
depois, foi expandida por todo o Brasil.
O que importa é que se as pessoas
acreditam nisso e essa suposta origem
faz parte da festa e do folclore em
Alcântara, tendo de ser levada em conta,
ainda que pouco provável historicamente.
São as crenças desse povo que fazem
dessa festa uma das mais belas do
Maranhão, sobretudo pelo modo sério e
religioso com que a tratam, o que faz
com que os festeiros, faça chuva ou faça
sol, cumpram com suas obrigações e com
todo o ritual nela existente.
A REALEZA
Os patronos da festa ou festeiros, como
dissemos, são escolhidos no final da
festa do ano anterior através da leitura
do pelouro. Fica lembrado, a efeito de
curiosidade, que até a década de 80 o
Senhor Ricardo Leitão, ex-prefeito e
tido como pessoa entendida da festa, o
qual recebera a incumbência de escolher
os patronos a cada ano. Antes dele, essa
função era do Senhor Galdino Ribeiro,
que, por sua vez, também a recebeu de
outro antepassado. Os festeiros são em
número de 13: um imperador, ou
imperatriz, pois, alterna-se a cada ano
entre os dois; um mordomo-régio ou
mordoma (se a festa for com Imperatriz);
cinco mordomos-baixos e seis
mordomas-baixas. Por problemas de ordem
financeira a festa, por vezes, não conta
com o número de 13 festeiros, sendo esse
número reduzido até no máximo de apenas
três, tendo que, obrigatoriamente, haver
o imperador (ou a imperatriz) e o
mordomo-régio (ou mordoma). *5
O imperador usa como cor oficial o
vermelho; o mordomo-régio deve usar o
verde; os outros usam ou o azul-claro ou
o rosa*6. Cada um dos festeiros tem seu
séquito, que começa com seu próprio
representante, pois, não é ele que
comparece a todas as festas. Esse
representante pode ser um menino ou uma
menina, por exemplo: o
imperador-festeiro é representado pelo
imperador-do-trono (que pode ser seu
filho, neto ou parente), um menino
fardado de branco com alamares ou botões
dourados, manto vermelho e coroa. O
imperador-do-trono faz-se acompanhar de
dois vassalos; quando é a
imperatriz-do-trono, são duas aias e um
vassalo. Sempre que esses personagens se
encontram em cortejos, à sua frente
segue o estandarte vermelho.
O mordomo-régio, por sua vez, é
representado pelo mordomo-régio do
trono, que veste farda branca, manto
curto, chapéu de dois bicos verde,
orlado de arminho e, à frente, um
estandarte verde. Todos os outros, até o
último dos mordomos-baixos, possuem seus
representantes, todos com seus vassalos,
ou aias, de ternos engomados, mas, sem
manto. Todas as caixeiras vestem branco;
as caixas tocadas pelas caixeiras do
Imperador são vermelhas e as tocadas
pelas do mordomo-régio, verdes*7. Além
desses personagens, há, ainda o
mestre-sala, responsável por muitas
funções na festa.
A insígnia (também objeto cultuado)
desse Império é uma coroa de prata
maciça encimada por uma pombinha
pertencente à Igreja, mas confiada à
guarda do imperador até o fim da festa.
Os mordomos, por sua vez, exibem uma
pomba em tamanho natural, de gesso ou
madeira.
QUANDO A FESTA OCORRE
Por volta do mês de maio ou junho já
devem estar providenciados quase todos
os recursos para a festa que acontecerá
religiosamente entre o Sábado de Aleluia
e o Domingo de Pentecostes, datas móveis
constantes no calendário das festas
católicas ocorridas entre os dois meses.
O SÁBADO DE ALELUIA
O dia inicia-se com a missa na Igreja de
Nossa Senhora do Carmo com o povo
reunido, além dos "promotores da
festa,’a realeza’ e os contratados"*8.
Durante a cerimônia religiosa, as
bandeiras estão enroladas. Após, ao
toque das caixas, as bandeiras se
desfraldam e um cortejo segue pela
cidade ou até lugarejos próximos em
busca de esmolas (ovos, açúcar etc.),
para os doces da festa.
QUARTA-FEIRA, VÉSPERA DA ASCENSÃO
Às 4:00 horas da tarde, uma multidão,
incluindo homens, mulheres, crianças,
adolescentes e velhas caixeiras,
reúne-se no Porto do Jacaré para retirar
de um barco atracado um tronco de
aproximadamente 10 metros de comprimento
e ornamentá-lo com ramos de murta a fim
de que represente o Mastro do Divino.
Esse tronco será conduzido, com
estrondos de foguetes, pelas ruas da
cidade por um cortejo de festeiros,
músicos, homens e mulheres, dentre elas
as caixeiras, que puxam versos
respondidos pelos carregadores do mastro
e crianças, muitas delas de 8 a 10 anos
de idade em grande algazarra em cima do
tronco para nele serem também
carregadas, até atingir a praça onde
será erguido o mastro, que logo é
enfeitado de cachos de banana e cocos da
praia. Em cima dele, o mastaréu,
(bandeira coma coroa do Divino bordada
ao meio). O cenário está armado, quem
quer que por ali passe já sabe em que
clima está aquela cidade e por quem ela
está tomada. *9
QUINTA-FEIRA DA ASCENSÃO
Às 4:00 horas da manhã é o momento da
"Alvorada", onde caixeiras e
bandeireiras cantam e tocam ao pé do
mastro por aproximadamente meia hora,
retirando-se logo depois. Às 8:00 horas
se inicia propriamente a festa, quando o
mestre-sala do imperador sai para reunir
as caixeiras e, com a orquestra, vai
buscar de casa em casa os festeiros.
Nesse cortejo, juntam-se várias pessoas
que se dirigem à Igreja na qual
imperador e mordomos ocupam seus tronos,
adornados de sedas e bordados, para
assistirem à Missa da Ascensão, ao fim
da qual o pároco solenemente coroa o
imperador, pondo-lhe na cabeça uma coroa
de lata, enquanto nas mãos segura um
cetro. Nesse momento, um pombo branco é
solto e sai voando pela nave até sair da
igreja, ao que o público responde com
palmas e com muita emoção. *10
Saindo da igreja, o povo forma um
cortejo. À porta do templo, os séquitos
do trono reúnem-se para realizar uma
procissão ao som de marchinhas e
dobrados, dirigindo-se à Casa do
Imperador, um sobrado adquirido pela
então MARATUR (Empresa Maranhense de
Turismo), chamada pelo povo de Casa do
Divino, na qual há durante o ano
inteiro, exposição de tronos, altares e
mesas de doces. Ali, o cortejo encontra
uma recepção com farta mesa de doces,
chocolate grosso e licores de jenipapo,
maracujá. murici, goiaba etc. Entre os
doces encontram-se os tradicionais
"doces de espécie" (uma especialidade de
Alcântara, cuja receita é transmitida de
geração a geração), simples ou duplos,
no feitio de folhas, cestos, maxixes,
quiabos, bichos etc. São feitos de massa
de trigo, ovos e manteiga com recheio de
doce-de-coco.
As casas onde são feitas as mesas de
doces recebem decoração própria e nelas
são armados altares e tronos para os
membros do Império. Há também as prisões
(representadas por um laço de fita)
sujeitas a multas em dinheiro para quem
cruzar pernas ou braços ou ainda fumar.
Depois dessa festa, o imperador será
obrigado a dar outra com mesas de doces,
no Domingo de Pentecostes; os mordomos
deverão oferecê-las nos dias em que irão
receber visita do Imperador.
Durante a tarde são efetuadas as
prisões: a mando do imperador, um
vassalo com seu séquito vai até a casa
de um mordomo para prendê-lo. Um cortejo
ruma até o mastro ao som dos cânticos
das caixeiras e gritos do povo,
visitando cada um desses mordomos e
prendendo-os, os quais, já em frente ao
mastro, deverão oferecer prendas ao
Divino para serem libertos. *11
O SÁBADO DO MEIO
No Sábado do meio, véspera do Domingo
que fica entre a Ascensão e o
Pentecostes, crianças e adolescentes,
juntamente com as caixeiras, seguem pela
cidade fazendo novo recolhimento de
pequenas ofertas, a ciganagem. No final
da tarde, o mestre-sala do mordomo-régio
vai até o imperador para pedir-lhe a
licença para que seu amo que possa
visitá-lo durante a noite. O pedido é
levado por uma criança. *12
À noite, sai o Mordomo-régio, com suas
caixeiras, seus vassalos e o povo em
grande cortejo, que obrigatoriamente
deve passar pela porta da casa de cada
mordomo com sua imagem do Divino na
salva, recebendo as homenagens dos
fiéis, para realizar a visita ao
imperador.
Ao chegar próximo à casa do imperador,
esse vem ao encontro do mordomo-régio e,
nesse momento, é trocada a coroa de
prata do imperador pela pomba do Divino
do mordomo-régio. Ao entrarem na Casa,
dá-se início ao baile com seus comes e
bebes, o qual, terminando durante a
madrugada, dá lugar a outro, só que na
casa do mordomo-régio para onde o
cortejo se dirige.
O DOMINGO DO MEIO
Às 10 horas, imperador, mordomos e os
demais deverão comparecer à missa, após
o que todos deverão ir até a casa do
mordomo-régio para uma festa, pois, esse
é o seu dia. Depois, todos saem para
visitar a cada um dos mordomos até o
último, ficando o mordomo-régio em sua
casa. Nesse dia, o imperador deve vestir
farda cinza ou cáqui, assim como o
mordomo-régio; os mordomos-baixos usam
ternos escuros.
A SEMANA DE FESTAS
Na semana que se segue, durante todos os
dias, deve haver uma ou duas festas,
dependendo da quantidade de mordomos,
pois cada um deles deve visitar o
imperador por pelo menos 4 horas,
começando a partir das 22:00 horas.
SEXTA-FEIRA
Na Sexta-feira, um boi brabo, com
chifres enfeitados de flores e ramagens,
seguro por longas cordas e acompanhado
pelas caixeiras, percorre as ruas da
cidade, assustando as pessoas. Será ele
sacrificado no dia seguinte.
A VÉSPERA DO PENTECOSTES
No dia seguinte à tarde, imperador e
mordomos distribuem esmolas aos pobres:
a carne do boi sacrificado, pequenos
feixes de lenha, dinheiro, pão, gêneros
diversos, acondicionados em pacotes em
formato de barcos, cestas, flores etc. À
noite, o imperador retribui as visitas,
acontecendo várias festas, doze se o
número de festeiros for completo.
O DOMINGO DE PENTECOSTES
Neste dia, o imperador usa azul-marinho,
os mordomos temos escuros, todos os
outros usam o vermelho, até mesmo as
pombinhas, que usam uma jaquetinha. Às
10:00 horas, é celebrada a missa. Após a
bênção final, um novo cortejo é feito
para rumar à Casa do Imperador, onde uma
recepção, com almoço, os aguarda. Nela,
vinho à vontade, doces de massa e calda
etc.
Após a festança, organiza-se novamente o
cortejo rumando para a igreja. É hora da
procissão. Um menino vai à frente com a
bandeira; atrás segue o andor de seda
abrigando a Santa C’roa, carregado aos
ombros de quatro moças mais ou menos da
mesma estatura *13. Logo em seguida, o
imperador segue coroado, o peito cheio
de condecorações e berloques de ouro,
botões, dragonas, cetro, luvas e manto
escarlate, além de uma pesada e antiga
corrente de ouro ao pescoço. Ao seu
lado, dois vassalos de roupas cinzentas
e faixas verde-amarelas atravessadas ao
peito. O mordomo-régio, de farda azul e
manto curto, vem logo atrás, também
orlado de arminho. Em seguida, os
mordomos-baixos com seus séquitos e seus
paletós escuros, gravatas pretas e luvas
brancas. Por fim, a orquestra e o povo,
alguns pagando promessas, recitando
terços. Nas janelas, as pessoas
benzem-se ao passar a procissão, talvez
pedindo graças. Por volta das 18:30
horas recolhe-se a procissão com o povo
apinhando-se dentro da Igreja. É o
momento a revelação dos nomes dos
próximos festeiros, ou da leitura do
pelouro No dia seguinte, o até então
imperador vai de casa em dos festeiros
investindo-os de suas funções.
Adriano Souza é bacharel em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do
Maranhão.
Notas de rodapé
1 - Conferir: CASCUDO, Câmara. Prefácio
à Primeira Edição de LIMA, Carlos de.
Festa do Divino Espírito Santo em
Alcântara (Maranhão). 2ª ed. Brasília:
Fundação Nacional Pró-Memória/Grupo de
Trabalho de Alcântara, 1988. p.6.
2 - Conferir: LIMA, Carlos de. Festa do
Divino Espírito Santo em Alcântara
(Maranhão). 2ª ed. Brasília: Fundação
Nacional Pró-Memória/Grupo de Trabalho
de Alcântara, 1988. p.21.
3 - Conferir: CASCUDO, Câmara. Prefácio
à Primeira Edição de LIMA, Carlos de.
Festa do Divino Espírito Santo em
Alcântara (Maranhão). 2ª ed. Brasília:
Fundação Nacional Pró-Memória/Grupo de
Trabalho de Alcântara, 1988. p.6.
4 - Conferir: LIMA, Carlos de. Festa do
Divino Espírito Santo em Alcântara
(Maranhão). 2ª ed. Brasília: Fundação
Nacional Pró-Memória/Grupo de Trabalho
de Alcântara, 1988. p.21.
5 - Conferir obra citada em nota 1.
6 - Conferir obra citada em nota 2, p.
36
7 - Conferir obra citada em nota 2, p.
22.
8 - Conferir obra citada em nota 2, p.
22
9 - Conferir obra citada em nota 2, p.
27-8.
10 - Conferir obra citada em nota 2, p.
26.
11 - Conferir obra citada em nota 2, p.
27-8.
12 - Conferir obra citada em nota 2, p.
28.
13 - Conferir obra citada em nota 2, p.
29.
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