IMPÉRIO DA COROA NOVA
Bem, segundo "reza" a
história, este império
fundado em 1880, surgiu de
uma desavença entre "irmãos"
de outro império (coroa
velha), dando lugar a uma
separação; uns ficaram com o
edifício na altura existente
e os outros com a coroa,
indo fundar o então Império
da Coroa Nova. No entanto,
será no mínimo estranho o
império dito da Coroa Nova,
ter a coroa mais antiga da
freguesia. Obviamente, tudo
isto carece de fundamentos,
pois esta história chega até
nós através dos ditos
populares, e como todos nós
sabemos, quem conta 1 conto
acrescenta 1 ponto, logo
temos no mínimo de dar o
beneficio da dúvida.
Infelizmente
a nível documental, e devido a
alguns "trapalhões", que
passaram pelas direcções, a
maioria dos livros de actas, de
irmãos e outros arquivos foram
postos no "lixo", privando as
gerações vindouras de um
precioso espólio manuscrito que
lá existia, ficando assim alguns
dos anos de existência desta
irmandade completamente em
branco. Assim não podemos tirar
a limpo, esta história de
"desavenças"...
Uma das principais razões da
sua fundação, foi a
caridade, existem muitas
teorias, sobre o nascimento
deste culto e muitas delas
fazem sentido, mas a
partilha entre irmãos, foi
sem dúvida um motivo muito
forte na génese destas
irmandades. No caso do
Império da Coroa Nova,
felizmente ainda existem
provas da partilha, quando a
pobreza fazia parte do dia a
dia de muita gente, neste
império prestava-se alguns
"auxílios". Em primeiro
lugar o Pão de trigo,
distribuído aos irmãos e
pessoas mais carenciadas,
utilizando para tal uma
"senha" ou "bilhete", quando
a fartura se instalou, este
gesto foi substituído por
donativos a uma instituição
de caridade social, casa do
gaiato, etc..., mais tarde
foi posto de parte este
gesto, que embora simbólico,
traduzia um dos fundamentos
básicos destas instituições.
Outro "auxilio", era
prestado nos funerais, com
um "subsidio" para ajudar
nas despesas, e ainda
"mandar" celebrar uma missa,
pelo irmão falecido.
(costume ainda em vigor)
Para suportar as despesas da
festa e deste auxilio
monetário, os irmãos pagam
anualmente as "pautas", e as
ofertas (que podem ser em
moeda ou em géneros: bolos,
fruta, patos, galinhas,
massa sovada, etc...)
«foliões»
Com o passar dos anos, a
tradição foi enfraquecendo,
o cortejo para a igreja foi
ficando com menos
participantes, mas com o
inicio das "chamadas" Sopas
do Espírito Santo,
distribuídas aos irmãos e
convidados no dia da festa,
trouxe novo alento a esta
tradição secular.
Estas (sopas), existiam
muito raramente a nível
colectivo, só em caso de
"função", ou seja,
cumprimento de promessa, ou
então quando o Império
celebrou o seu centenário.
Quanto à festa em si, tem o
seu inicio na segunda-feira
à noite, com a recitação do
terço em frente ao altar,
depois na terça-feira,
inicia-se as comemorações
com o cortejo para a igreja
paroquial, para assistir à
missa e coroações, seguido
de "Sopas" para todos os
Irmãos. Ao fim da tarde,
faz-se o arraial, junto ao
império, onde se procede às
arrematações das ofertas dos
irmãos, ao som dos acordes
da filarmónica.
A
um nível mais geral, as "Sopas
do Divino Espírito Santo" estão
completamente banalizadas,
servindo agora para a angariar
fundos para tudo e mais alguma
coisa, as pessoas chegam à festa
da Santíssima Trindade,
completamente abarrotadas de
sopas, pois durante o ano,
outras colectividades ou as
paróquias em si, organizam estes
eventos para juntar dinheiro
para as obras da igreja, para a
farda da filarmónica, para isto
e para aquilo...
Seguir as pisadas dos nossos
antepassados, hoje, já tem um
significado diferente.
Ir
no cortejo para a igreja, com
uma vara na mão, todos unidos
simbolicamente, em sinal de
irmandade, de humildade, de
partilha, de sermos todos iguais
perante Deus, de ter como
obrigação olhar pelo próximo,
ajudar o semelhante, tendo em
conta os seguintes Dons:
Sapiência, Entendimento,
Conselho, Fortaleza, Ciência,
Piedade e Temor de Deus, salvo
ainda algumas excepções, temos
de reconhecer que nos dias de
hoje, já não é muito atractivo.
Acabo com uma citação, que
também serviu para finalizar um
livro lançado em 2005 aqui no
Faial, sobre este tema:
"Somos os responsáveis por
lembrar aos homens aquilo que
eles teimam em esquecer."
Eric Hobsbawn